A cada crise os europeus vão acumulando frustração com a forma como a União Europeia se atrasa face aos grandes acontecimentos mundiais. Apesar do sucesso inegável da União Europeia na construção de um continente em paz e de alto desenvolvimento económico e humano, a reatividade e lentidão europeia deixam bem claro que é um projecto inacabado.

Esta lentidão contrasta com uma realidade onde muitos jovens europeus já viveram noutro país e construíram uma forte rede de relações pessoais que atravessam fronteiras. A Europa da geração Erasmus é um continente de cidades multiculturais, liberdades individuais e solidariedade entre povos onde é frequente ouvir jovens falarem sobre como se consideram tão Europeus como Portugueses, Franceses ou Alemães. É a Europa onde as identidades nacionais são fatores de enriquecimento cultural e onde a diversidade é valorizada como um valioso ativo.

Mas estas aspirações dos cidadãos europeus sobre a capacidade de a União Europeia em responder aos desafios do século XXI chocam com a forma como as instituições europeias funcionam e o pouco poder que têm. Apesar de todos votarmos para eleger o Parlamento Europeu, poucos sabem que este não tem iniciativa legislativa. Pior, as decisões mais importantes são tomadas pelo Conselho Europeu, que reúne os chefes de governo de cada país e onde muitas vezes o veto de um só país (entre 27) deita por terra reformas indispensáveis.

O resultado deste modelo de governação que funciona à base do consenso entre 27 entidades políticas com fortes pressões eleitorais nacionais fica óbvio nas notícias que lemos diariamente: “A Europa vai ponderar”, “A Europa está preocupada”, “A Europa vai estudar”…

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Este modelo de governação fez sentido e foi o possível num mundo que já não é o de hoje. Mas já não serve e deve ser revisto. Está claro que uma União Europeia forte e ágil só será possível quando for alterada a sua forma de funcionamento, em particular a diminuição do poder que atualmente reside no Conselho Europeu e do poder de veto de cada estado membro.

Começando pelo fim da necessidade de unanimidade nas decisões do Conselho Europeu, um novo modelo para a União Europeia pode passar por um modelo federal, a criação de um governo Europeu, o fortalecimento do Parlamento Europeu como instituição de elevada legitimidade democrática, o fortalecimento da política externa Europeia, e a criação da cidadania europeia.

Apesar destes vários caminhos estarem identificados há muito tempo, não houve até agora vontade dos chefes de governo para fazer essas reformas, em grande parte porque a política Europeia tem ocupado pouco espaço de debate nacional. Na verdade, um chefe de governo de um estado membro tem poucos incentivos a tomar a decisão de partilhar uma maior parte da sua soberania com um estado federal Europeu.

Mas os jovens europeus estão prontos, e precisam de uma Europa mais forte e integrada. Só isso servirá as nossas aspirações no século XXI. Da mesma forma que os nossos avós construíram a União Europeia depois da Segunda Guerra Mundial, devemos ser nós a trazer esta conversa para o debate público e a lutar por uma Europa menos de países e mais de europeus.

Nuno Carneiro é data scientist e gestor de produto. É membro da comissão executiva da Associação Portuguesa de Gestão e Engenharia Industrial (APGEI), fundador da academia apartidária Próxima Geração, e coordenador da comunidade cívica Política Para Todos. Foi presidente da European Students of Industrial Engineering and Management. É membro do Global Shapers Lisbon Hub desde 2018.

O Observador associa-se ao Global Shapers Lisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial, para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa.  O artigo representa a opinião pessoal do autor, enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.