Depois do 25 de abril, com a formação dos novos partidos, foram constituídas as juventudes partidárias que tinham, e têm, como finalidade louvável, o envolvimento dos jovens na política.

Nessas juventudes, que se foram desenvolvendo ao longo dos anos, foram criados grupos de “amigos” que formaram verdadeiras coligações de poder. Por outro lado, a dedicação plena de alguns dos elementos das juventudes à política, levou a que muitos deles, então estudantes, nunca tivessem concluído os cursos superiores em que estavam inscritos. Dizia-me há alguns anos, com certa graça, um amigo que esteve ligado a uma juventude partidária, que alguns dos elementos mais assíduos na política eram os piores alunos das suas faculdades.

Por isso tivemos, muitos anos depois, políticos como Sócrates, Relvas, Vara, etc, que concluíram licenciaturas com muitas dúvidas. No caso de Relvas foi mesmo retirada a licenciatura, e no caso de Sócrates nunca percebi porque não foi anulada a sua alegada licenciatura em Engenharia.

São estes alguns dos exemplos, também, dos que apelidamos de “políticos profissionais”, ou seja, aquelas pessoas que, na vida, nunca fizeram outra coisa que não seja política. Muitas vezes no pior sentido, dos jogos políticos para ganhar e manter o poder.

Alguns estão instalados em autarquias como eleitos, outros como assessores ou adjuntos ou mesmo como prestadores de serviços, outros foram, ou são, deputados da Nação. Outros foram nomeados como quadros de organismos e de empresa públicas, alguns em casos de Administração, sem que para tal tenham qualquer preparação como gestores, apenas o cartão partidário e o facto de pertencerem a um grupo de “amigos” formados no tempo em que pertenceram às “Jotas”.

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Quando fiz o inquérito de suporte à minha tese de doutoramento, no ano de 2010, sobre a eficácia da avaliação do desempenho em Municípios, tomei como respondentes os dirigentes e os eleitos em Municípios. Houve uma questão de controlo que tinha a ver com a preparação prévia em Gestão (licenciatura ou curso de formação). Em resumo, perto de 50% dos dirigentes tinham feito alguma formação em Gestão e apenas 10% dos Eleitos o tinham feito. Sabendo nós que os Municípios são na maior parte dos casos a maior ou uma das maiores organizações económicas do Concelho, percebemos a qualidade média da sua gestão por esta amostra. Grande parte dos eleitos em autarquias são “políticos profissionais”.

O melhor exemplo deste tipo de pessoas é o nosso atual Governo, formado, na sua grande maioria, por “políticos profissionais”, tendo o seu epítome no Primeiro-Ministro, que quase sempre se dedicou em exclusivo à política.

Adicionalmente os “políticos profissionais” tendem a criar situações através das quais pretendem afastar a generalidade das pessoas da atividade política. É este o caso do PSD em Lisboa, no qual existiam núcleos de freguesia, que faziam a ligação do partido às bases locais e que foram, em determinada altura, extintos. Houve militantes que lutaram pela sua reativação tendo em 2018 ou 2019 sido tomada pela Distrital de Lisboa a decisão da sua reativação. Até hoje e apesar de algumas iniciativas locais não foram retomados, sendo aduzidas diversas razões do meu ponto de vista, sem sentido, para o efeito.

Outra forma de afastar as pessoas mais capacitadas em termos de formação e de experiência da política são os baixes salários oferecidos legalmente, por exemplo, aos autarcas de municípios e de freguesias. Por exemplo no caso das freguesias de Lisboa, as maiores têm orçamentos anuais entre 6 a 10 milhões de euros e quadros de pessoal direto e indireto da ordem das 300 a 500 pessoas. Há alguns anos, quando era docente convidado no ISCSP, convidei um presidente de uma freguesia de Lisboa para fazer uma apresentação aos meus , na UC “Introdução à Gestão”, da sua prática de gestão na sua autarquia. Ele é engenheiro civil de formação, com uma carreira consolidada como engenheiro e administrador de organizações.

Foi atraído para a política, ganhou as eleições e fez o seu trabalho como autarca que, disse, foi o trabalho que lhe deu maior satisfação pelo facto de ter conseguido concretizar mudanças práticas que favoreceram a população da sua freguesia, por exemplo, no campo da educação. Mas também disse que, como engenheiro, ganhava entre 4 a 5 mil euros por mês e como Presidente de Junta ganhava 1.500 euros, pelo que não poderia fazer mais do que um mandato, pois estaria a prejudicar a estabilidade financeira da sua família.

As notícias que vamos tendo sucessivamente de acusações de corrupção contra autarcas, na minha perspetiva radicam no facto de se tratar em geral de “políticos profissionais” que têm salários baixos e que por tal motivo estão mais susceptíveis a ser induzidos para essas situações ilegais.

Recentemente li um livro de Brian Klaas1, um cientista político, Professor Associado de Política Global no Universe College de Londres, intitulado Corruptíveis, há pouco traduzido para português, e cuja hipótese de base é: “O poder corrompe ou atrai os corruptos?”.

Aconselho os leitores a lerem este livro para entenderem porque existem casos de corrupção entre políticos em Portugal.

Qual a solução para melhorar a qualidade dos políticos em Portugal? Do meu ponto de vista, a atração para a política das melhores cabeças, em todas as áreas do conhecimento, através da proposta de condições adequadas para a complexidade e responsabilidade das funções a exercer.

Como estamos em democracia só através dos votos esta situação poderá mudar. E mudará se a maioria das pessoas em Portugal aderirem a um partido político, como militantes. A sua função essencial será votarem nas eleições mais relevantes, mas desconhecidas do público em geral: as eleições internas para concelhias, distritais e órgãos nacionais, que são as estruturas que vão escolher ou influenciar decisivamente a escolha dos candidatos às eleições que todos conhecemos: legislativas, autárquicas, europeias.

É reconhecido que Portugal é um dos países europeus em que a percentagem de cidadãos inscritos em partidos políticos é das menores. Esse poderá ser um dos maiores determinantes do baixo nível dos políticos que temos e, consequentemente, da nossa queda sucessiva nos rankings europeus da produção de riqueza.