A EFACEC, uma empresa histórica portuguesa, com real capacidade produtiva, das poucas empresas nacionais que produzem para todo o mundo, encontrava-se há anos em dificuldades financeiras. Ao invés de a encaminhar para a extinção, entendeu-se que importava salvaguardar o seu valor em conhecimento tecnológico e os seus dois mil postos de trabalho.

E quem surgiu para salvar a EFACEC? A Sra. Isabel dos Santos. Mas a EFACEC está de novo à beira da insolvência e agora – só agora — o Ministério Publico, anda a tentar apurar como conseguiu a Sra. Isabel obter perto de 300 milhões de euros para comprar a EFACEC. Ora, se toda a gente sabia — repito: toda a gente sabia — que tal fortuna resultava do clientelismo, nepotismo e cleptocracia do governo angolano de José Eduardo dos Santos, porque se permitiu este negócio com esta especifica pessoa? Explicação para o fiasco: ninguém mais se interessou pelo negócio.

A EDP e a REN, eram dois importantes activos do Estado português. Nas circunstâncias de bancarrota em que o país se encontrava em 2011, uma das condições impostas pelo resgate a que fomos sujeitos, foi obrigar o Estado (“obrigação “é a versão oficial) a vender esses activos. E quem surgiu a comprar: o Estado Chinês. País respeitador dos direitos humanos na medida em que conhecemos, praticante encartado de dumping e com ambição de utilizar politicamente a posse de empresas de sectores especiais da União Europeia, como é o caso da EDP. Situação que aliás só ainda conseguiu em Portugal. Acresce que o investimento rende excelentes dividendos e isso certamente nada tem a ver com as rendas excessivas pagas pelo Estado português, nem com a falta de real concorrência no sector, mas com a genialidade dos seus gestores… Quando se pergunta porque se vendeu um sector estratégico a um outro Estado soberano, nem sequer democrático, e não a uma entidade privada, já conhecem a resposta: ninguém mais se interessou pelo negócio.

O contrato de venda de Novo Banco, finalmente está a chegar a conta gotas ao Parlamento, blindado ainda assim com estritas regras de confidencialidade, como se da fórmula da bomba atómica se tratasse. Tal contrato foi celebrado com uma entidade chamada Lone Star. Esta entidade é detida por um Sr. John Grayken, possuidor de várias nacionalidades e convenientes passaportes, cadastrado por manipulação bolsista. Em suma, um abutre. Como já todos percebemos, tudo isto vai acabar em mais um completo fiasco. Quando se pergunta porque se vendeu o Novo Banco a este figurão, já sabem a resposta: ninguém mais se interessou pelo Banco.

A TAP foi originalmente fundada vai quase para 100 anos, para ser a companhia aérea do império português. O império foi-se e a TAP ficou. Apesar de praticamente ter sido sempre deficitária, foi-se mantendo, inclusive, porque os portugueses gostam da TAP e aderem à ideia de possuir uma companhia de bandeira. É notoriamente mais consensual e popular o Estado meter dinheiro na TAP, que no Novo Banco. Mas decidiu-se privatizar a TAP. Então quem se encontrou para ficar com a companhia? O Sr. David Gary Neeleman, à boleia do empresário português Humberto Pedrosa, como forma de fintar a norma europeia que impede um não europeu de possuir a TAP. Neeleman é outro possuidor de várias nacionalidades e convenientes passaportes. Como não tinha dinheiro para comprar a companhia ou não o queria gastar, cedeu os direitos que a TAP tinha na Airbus para comprar aviões A 350, então muito procurados pelo mercado, por aviões A 330, com menos procura, recebendo por isso um cheque da Airbus de 70 milhões. Moral da história: comprou a TAP com o pelo do cão, como se costuma dizer. Porquê o Sr. Neeleman? Explicação oficial: porque mais ninguém se interessou pela TAP, mesmo no momento do boom do transporte aéreo e ainda com o bónus do Estado português ficar com todo o anterior passivo acumulado da companhia. Agora a TAP necessita de mais mil milhões. Todas as companhias estão na mesma situação. O problema não está em emprestar. A dúvida é se a TAP alguma vez vai pagar…

A cereja em cima do bolo deste rol de “excelentes negócios” do Estado português é a aceitação de realizar em Lisboa os jogos que faltam para completar a presente edição da Liga dos Campeões. Apresentar publicamente como uma grande vitória o facto de Lisboa ser escolhida para o palco de 7 jogos em estádios fantasmas, rodeados de alguns adeptos irresponsáveis, é algo que precisamos em Portugal como uma fogueira precisa de gasolina. A apresentação desta “conquista” nos jardins do Palácio de Belém, pelas mais altas figuras do Estado, foi talvez o maior acto falhado da carreira política dos que estiveram presentes. Uma verdadeira saloiice inimaginável.  Mas fica um precedente com alguma utilidade: quando os portugueses ligarem a televisão e virem as três figuras cimeiras do Estado a fazer uma solene comunicação, já estão  a partir de agora conhecedores que ou é para informar que o país acaba de ser invadido por uma potência estrangeira, ou é para dar conhecimento que vamos organizar sete jogos de futebol em  estádios vazios. É reconfortante.

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