Todos os anos, a população entretém-se a pensar na figura do ano, na palavra do ano ou até na expressão do ano. No fundo, um desporto internacional. Permitam-me que nomeie aquela que foi para mim a expressão do ano no universo político: “O CDS vai acabar”.
Todos os comentadores, colunistas e ainda alguns políticos não se cansaram de declarar tão excessiva futurologia. É certo que não é um episódio inaudito – há mais de 45 anos que se vaticina o fim do CDS. Contudo, há um fenómeno de relação sempre que isto é manifestado: mais cedo ou mais tarde, com mais ou menos deputados, o CDS reaparece com força. Ainda assim, e mesmo confiando no passado histórico do CDS-PP, o atual líder, Francisco Rodrigues dos Santos, não tem conseguido agregar os seus militantes, nem tão-pouco seduzir o eleitorado de direita.
Coincidente com a eleição de Francisco Rodrigues dos Santos no último ano, o panorama político à direita transformou-se. O novo CDS-PP teve a oportunidade de se mostrar aos Portugueses como a verdadeira escolha de centro-direita em Portugal: sem vícios graças à sua renovação, sem extremismos, sem demagogia eleitoral, sem ataques a minorias ou sem políticas populistas. No entanto, e volvido mais de um ano desde a eleição de FRS, o CDS é incapaz de ter uma voz ativa e relevante no panorama político português. Porquê?
O argumento mais comum é a ascensão frenética do Chega. Contudo, isso não pode ser a única justificação. Aliás, o crescimento do partido de André Ventura só foi possível, exatamente porque o CDS não se soube afirmar.
A resposta é simples: a nível interno, o CDS-PP é, atualmente, uma tremenda confusão.
Internamente era necessário proceder a uma união entre todos os dirigentes e militantes, pois só assim seria possível um partido forte. Francisco Rodrigues do Santos sabia disso desde início, demonstrando humildade e coerência em escolher Filipe Lobo d’Ávila como primeiro vice-presidente – aliou a sua coragem, inteligência e juventude à maturidade política, seriedade e experiência política e profissional de Filipe Lobo d’Ávila. Mas não foi suficiente. Tentou unir o partido, convidando membros da lista de João Almeida a ingressar na sua equipa, mas viu o seu convite ser negado, sendo obrigado a formar (quase de raiz) uma direção onde as suas principais figuras eram membros da Juventude Popular e ex-dirigentes que nunca tiveram potencial político (como alguns dos seus vice-presidentes e membros da sua lista ao Conselho Nacional). Este foi o verdadeiro problema do CDS-PP.
Porém, não obstante as dificuldades na imprensa e da complexidade em unir o partido, seria injusto responsabilizar Francisco Rodrigues dos Santos como único culpado pela atual situação do CDS-PP. Não bastou, como ficou provado, ter carisma e boas ideias – não se pode negar que Rodrigues dos Santos tem uma e outro –, era preciso que a sua Comissão Política Nacional demonstrasse a preparação necessária para responder aos desafios que a tarefa de liderar o CDS exige. Algo que nunca foi feito. Fruto da má preparação, e alavancada pela demissão de muitos membros da sua Comissão Política, a equipa de Francisco Rodrigues dos Santos desfragmentou-se ao ponto de ser colocada em causa a legitimidade para continuar a comandar as lides do CDS-PP. Resultado? O aparecimento de novos candidatos.
A (frustrada) candidatura (para já) de Mesquita Nunes, que surge com o receio do reaparecimento de Manuel Monteiro, chega numa altura muito delicada para o CDS-PP. Depois de um Conselho Nacional quente há uns fins de semana, teria sido sensato que dali saísse a convocatória para um Congresso Extraordinário Eletivo, que apontasse eleger ou reeleger o próximo líder do CDS-PP. Todavia, assim não aconteceu, tendo os conselheiros nacionais do CDS-PP decidido dar um voto de confiança a Francisco Rodrigues dos Santos. Pelo menos para já. Sendo este o atual panorama interno do CDS-PP, é importante, além de extremamente necessário, que todos os elementos, desde deputados a militantes bases, vejam na atual liderança o único caminho para atingir a harmonia necessária para as próximas eleições autárquicas. Mais importante, e de modo a complementar a preparação para o futuro do CDS-PP, é inadiável que Francisco Rodrigues dos Santos afaste alguns elementos da sua equipa.
Ainda assim, e com todas as futurologias a que estamos habituados, o CDS-PP voltou a ser palco de disputa entre dois candidatos. Isto, por sua vez, arruma o argumento de que o CDS-PP está morto. A direita portuguesa, partida e fragilizada, carece de um líder político que tenha potencial para conquistar os Portugueses. E o líder do CDS-PP deve voltar a ser a resposta a isso.
Um CDS-PP forte, unido e com vontade de crescer resultará, por sua vez, numa democracia forte onde o espaço para ideias populistas, infantis e sem critério tenderá a desaparecer. Para isso acontecer, quer Francisco Rodrigues dos Santos, quer Adolfo Mesquita Nunes, ou até mesmo Manuel Monteiro, devem ter atenção às companhias.