A história – ou o estudo da mesma – é aquilo que nos ensina a compreender as nossas atitudes e, por consequência, os seus efeitos. Individualmente, cada ser humano recorre a exemplos históricos (desde os familiares aos de escala global) para fundamentar ou demonstrar certas atitudes e opiniões. Quem não tem conhecimento histórico, não tem senso comum. Hannah Arendt clarifica isso muito sucintamente na obra “A Promessa Política” ao explicar que um povo sem cultura histórica, sem as tradições que o acompanhem ou sem gratidão pelos seus antepassados nunca poderá ter bom senso. O bom senso alimenta-se de acontecimentos passados.

Presentemente, como já anteriormente aconteceu, vivemos num período onde se renega o passado histórico – desde os costumes à cultura ou às tradições e, em função disso, não se consegue aplicar o bom senso no dia-a-dia. Este menosprezo deve-se, em certa medida, ao desalento e aos vícios do nosso sistema de educação, que acabam por reduzir o indivíduo à ignorância, à preguiça e ao desinteresse. Ao não conseguir compreender a História, e tudo aquilo em que nela está envolvido, acaba por não se conseguir captar um espírito de tradição cultural.

Parece-me que tudo isto ligado, desde a falta de profundidade de pensamento à limitação da compreensão histórica, acaba por criar condições para uma ascensão de um tipo de personalidades que pouco ou nada sabem, mas que derivadas das suas aptidões internautas e de cativação das massas envoltas em inércia alcançam notoriedade. Geralmente, estas personalidades, através de chavões e de discursos radicais e populistas, auto-elevam-se a um estatuto de sábios. Decretam preconceitos sobre vozes discordantes e relativizam todas as opiniões que não as suas. Por outras palavras, são os sofistas do séc. XXI.

Esta nova classe, onde impera, em quase todos os casos, a ambição política, proclama para si a habilidade de analisar todos os valores (históricos ou não), desde os sociais e políticos até aos religiosos. Através das suas proclamações nos fóruns internautas, tentam convencer – sem qualquer base histórica e renunciando à verdade e ao contexto em que se inserem – os seus seguidores da inteligência das suas posições. Pouco ou nada lhes interessa a reflexão sobre um determinado tema, raras são as vezes em que as opiniões são fundamentadas e o objetivo é só um: atacar sem misericórdia, recorrendo ao bullying, à desonestidade e à mentira para provar a sua especulação – sim, especulação. Comparações com o Bloco de Esquerda são puramente coincidência.

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As últimas eleições presidências, como em todas as outras, deram espaço a uma série de comentários e insinuações já tradicionais a este tipo de “sofistas”. O activista Diogo Faro – com demasiada popularidade nas redes sociais – escreveu, aquando a análise de Pedro Norton sobre as eleições presidências na SIC, o seguinte: “Ó PEDRO NORTON MAS ONDE É QUE O PCP E O BE SÃO EXTREMA ESQUERDA MÃE DO CÉU TIREM-ME DESTE PESADELO”. Este tipo de comentário, regular na página do ex-comediante, revelam exatamente aquilo que é característica de alguém completamente alheio à realidade política e da História contemporânea: desde quando é que partidos com influência marxista-leninista são moderados? Só alguém sem qualquer sentido histórico, sem consideração pela ética democrática e sem respeito pelas vidas humanas que tanto sofreram às mãos de regimes marxistas-leninistas, é que pode dizer tal coisa. Infelizmente, como este caso há outros. O que importa aqui (e que até hoje não foi conseguido) é travar, a par de todos os outros movimentos que crescem neste velho canto europeu, esta crescente onda de populismo de redes sociais que se caracteriza única e exclusivamente por ser radical, demagoga e arrogante.

A origem desta classe de intelectuais por detrás de um teclado não é necessariamente má – os blogs, hoje fora de moda, eram um grande palco de discussão e troca de ideias. No entanto, nada tem que ver com o que se passa hoje. Para estas personagens, a troca de ideias só é válida caso não sejam passadas linhas vermelhas por elas impostas. Ridicularizam a religião, desprezam factos, banalizam o termo “fascista”, ignoram debates económicos e, pior que tudo, contestam a ética dos antepassados.

No fundo, falta-lhes bom-senso.