Escreve a imprensa europeia que Vladimir Putin, Presidente da Rússia, teria dito a José Manuel Durão Barroso, que “o problema consiste em que se eu quiser tomar Kiev, farei isso em duas semanas”.

Tendo em conta a situação nas forças armadas ucranianas e o poder de mobilização russa, essa declaração não deverá estar muito longe da verdade, mas a táctica de Moscovo parece ser mais “elaborada” e “fina”, ou seja, chegar a Kiev mas através dos próprios ucranianos.

As conversações de Minsk estão a ser um fracasso devido às contradições entre os separatistas pró-russos (chamar-lhes-ia mais precisamente agentes russos) e os representantes do governo de Kiev.

Os separatistas prometem fazer “o máximo de esforços para a manutenção da paz, para a conservação do espaço económico, cultural e político único e de todo o espaço da civilização russo-ucraniana”, mas impõem numerosas condições. Além da manutenção da língua russa (condição que pode e dever ser discutida), os líderes separatistas querem um estatuto especial para as suas forças armadas, o poder de nomear procuradores e juízes e (atenção!!) exigem também “uma forma especial de actividade económica externa tendo em conta a integração com a Rússia e a União Alfandegária”.

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Isto é, os separatistas querem garantir que, no futuro, querem ter uma palavra decisiva a dizer caso Kiev ouse, por exemplo, se aproximar da União Europeia ou da NATO.

Por isso, Vladimir Putin apoia o diálogo entre os separatistas e Kiev e até contribui, com a intervenção militar na Ucrânia, para reforçar as suas posições nas conversações de Minsk. Nos últimos dias, os separatistas lançaram uma forte contra-ofensiva com apoio de armamentos e militares russos. Claro que Moscovo desmente que militares seus estejam a ser enviados para combater na Ucrânia, assim como desmentiu que tivessem sido enviadas tropas russas para a Crimeia. Mas os mortos e feridos, que já se contam com centenas, vão regressando aos cemitérios e hospitais russos.

A União Europeia, ou alguns dos seus membros, parece ainda não ter entendido que o principal objectivo da agressão da Rússia contra a Ucrânia não é apenas confirmar a anexação da Crimeia e afirmar-se no sudeste desse país, mas sim submetê-lo todo à sua política. O Kremlin deposita esperanças na agudização da guerra para destruir completamente a economia ucraniana, afundar o país numa gravíssima crise social que leve os cidadãos ucranianos a renderem-se às evidências, levando-os a derrubarem a “junta fascista” em Kiev e a optarem por um regime fiel a Moscovo.

Por isso, chegar a Kiev com os tanques em duas semanas poderá ser muito improvável, mas para Putin não é utópico chegar um dia à capital ucraniana. Talvez lá para o Outono ou Inverno…