Não há dúvida que Rui Rio é um político fora de comum. Lembra aquelas pessoas que estão quase sempre irritadas em casa com a família, mas sempre agradáveis com os de fora. Rio é assim. Quando há eleições no PSD, transforma-se na versão social-democrata do “animal feroz.” Nas eleições legislativas, é moderado, mole e até amigável com os socialistas.

De duas umas, Rio leva a máxima de Churchill a sério, e também acredita que os verdadeiros inimigos estão no seu partido. Ou sente-se melhor a combater aqueles que estão à sua direita no PSD do que a esquerda socialista. Talvez haja uma terceira hipótese. Rio não larga o seu lugar sem uma boa luta.

Foi isso que aconteceu nas eleições do PSD. Rio fez uma campanha melhor do que Rangel. Foi muito mais combativo, mostrou mais convicção de que poderia ganhar e demonstrou ter muito mais energia do que Rangel. A campanha de Rangel foi uma desilusão. Em vez de criar uma dinâmica de vitória, Rangel aparecia frequentemente com um ar derrotado. Parece que delegou a sua vitória nos líderes das concelhias e das distritais. Em política, as vitórias não se delegam, conquistam-se. Rangel também foi pouco claro no seu discurso. Começou a assumir uma oposição frontal ao PS, e terminou a deixar dúvidas em relação à possibilidade de um bloco central. Foi mesmo ao ponto de abrir a possibilidade de uma coligação com o PAN. Poucos partidos ameaçam o modo de vida dos militantes do PSD como o PAN. Foi um erro que custa muito entender.

Rio foi reeleito porque convenceu os militantes do PSD que seria o melhor candidato a primeiro-ministro. Os militantes acreditaram nele. O mandato de Rio é lutar para ser PM, e não para ser o número dois de António Costa. Talvez ajude se Rio olhar para Costa como se ele fosse militante do PSD. E combate-lo com a mesma vontade e alegria com que luta contra os seus colegas de partido.

Também ajuda se Rio acreditar que Costa quer o seu lugar. E, se o passado serve para alguma coisa, Rio já é o “Primeiro Ministro.” Desde o início deste século, houve três dissoluções da Assembleia e três eleições antecipadas. Em todas elas, os líderes da oposição ganharam. Em 2002, Durão Barroso ganhou, contra o PS que estava no governo; em 2005, Sócrates venceu contra o PSD; e em 2011 Passos Coelho tirou Sócrates de São Bento. Os portugueses não têm perdoado os partidos que não levaram os seus mandatos até ao fim.

Se se confirmar a história dos últimos vinte anos, a eleição do PSD foi a eleição para escolher o futuro PM. Rio foi o escolhido. Compete-lhe agora derrotar António Costa e fazer o que dois dos seus antecessores, Durão Barroso e Passos Coelho, fizeram no passado recente. Se eles o fizeram, não há qualquer razão para que Rui Rio não faça o mesmo.

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