Não há dúvida que a idade traz sabedoria. Sabedoria essa que, infelizmente, teima em fazer-se acompanhar pela queda de cabelo. E por fortes pontadas na região lombar. E por uma valente pitosguice. Mas esqueçamos, por instantes, esses contras. O que acaba por não ser difícil, uma vez que com a sabedoria chegam sempre também significativas perdas de memória.

Bom, de regresso à sabedoria trazida pela idade. Se é verdade que nos idos de 1990 abdiquei do concerto dos Rolling Stones no Estádio de Alvalade porque havia algo interessantíssimo na televisão, desta vez não abdiquei da transmissão televisiva da Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP para ir ao cinema. O que se revelou uma decisão, lá está, sábia, tendo em conta que ia ao cinema ver o Velocidade Furiosa X.

E o que é o Velocidade Furiosa X ao pé da acção ininterrupta, de cortar a respiração, da CPI à TAP? É para aí um Non, ou a Vã Glória de Mandar, de Manoel de Oliveira. Na mais benévola das hipóteses. Foi mesmo alucinante, a CPI à TAP. Só achei que os autores do enredo nos exigiram demasiada suspensão da descrença quando a chefe de gabinete de João Galamba, Eugénia Correia, referiu ter sido esmurrada pelo ex-adjunto, Frederico Pinheiro, e ainda assim, mesmo quando este chamou a polícia, tenha optado por não apresentar queixa da agressão. Hum… É capaz de ser demasiada fantasia. O Vin Diesel destruir dois helicópteros que, por intermédio de correntes, haviam prendido o seu veículo que circulava a alta velocidade, com recurso a piões e derrapagens ainda vá. Agora isto. Nã.

A não ser que… Ocorreu-me agora uma hipótese. A não ser que a agressão de Frederico Pinheiro não tenha aleijado Eugénia Correia. E como seria tal possível? Seria possível se, enquanto o ex-adjunto acumulava o cargo com o de treinador de andebol, a chefe de gabinete acumular o cargo com o de treinadora de MMA. Pode muito bem ser esse o caso.

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O que não parece mesmo nada verosímil é a teoria de João Galamba segundo a qual Frederico Pinheiro é um espião a soldo de Pedro Nuno Santos. Impossível. Uma vez que ninguém nega que o ex-adjunto saía mais cedo do emprego para ir para casa com o filho, depois ia dar treinos de andebol, e mais tarde voltava ao ministério para tirar fotocópias. A quem é que isto parece a rotina de um espião? Em que filme do James Bond é que podia acontecer tal coisa? No “007, Ordem para Manter uma Vida Familiar Banalíssima”? Se Frederico Pinheiro fosse um espião, saía mais cedo do emprego para ir a casa fazer filhos, depois ia dar treinos de arrancar cabeças por intermédio do arremesso de chapéus cujas abas são afiadíssimas lâminas, e mais tarde voltava ao ministério para tirar fotografias com a câmara oculta na sola do sapato.

E enquanto decorria a CPI à TAP, António Costa cantarolava temas no concerto dos Coldplay. Muita gente apontou o dedo ao Primeiro-Ministro, por aquilo que consideram uma falta de atenção para com o seu ministro das Infraestruturas. Insinuando que Costa se borrifou para Galamba. E por acaso, aqui, saio em defesa do Primeiro-Ministro. Porque a verdade é que enquanto Galamba ouvia das boas por parte dos deputados, Costa ouvia as más músicas dos Coldplay. Parece-me solidariedade institucional no sofrimento.

O que realmente interessa é que está aí uma nova petição intitulada Não TAP os Olhos: A TAP não é um ‘Ativo Tóxico’ – É um Trunfo Económico ao Serviço do País”, e assinada por sumidades do calibre de Ana Gomes, Francisco Louçã, Fernando Rosas, Vasco Lourenço, António-Pedro Vasconcelos, ou Pedro Abrunhosa. E uma pessoa pergunta-se: “Mas o que é que esta gente acha que sabe da indústria do transporte aéreo?” Pois, isso desconheço. Mas o facto é que sobre tomar boas opções políticas, realizar bom cinema, ou fazer boa música é que, comprovadamente, esta grupeta não percebe mesmo nadinha. Portanto, vai-se a ver e são experts em aviação.