Os tempos que correm são férteis no uso da palavra como forma não de esclarecer, mas de confundir. A ideia de que as palavras servem para definir com justeza as coisas ou os actos é hoje considerada uma ideia retrógrada e inimiga da realidade, que se quer com a plasticidade suficiente para ser tudo e o seu contrário.

Nos próximos dias, provavelmente mesmo na véspera de Natal, o Parlamento irá proceder à votação final da proposta da “legalização da morte medicamente assistida”. É mais um passo num projecto legislativo que se propõe acabar com fronteiras de protecção da vida e que teve já um antecedente com a “legalização da IVG”.

Todos reconhecemos estes dois actos com outros nomes, bem menos complicados, nomeadamente, “eutanásia” e “aborto”. Pergunta-se, então, porquê complicar o que é simples?

A resposta é intrincada, mas se olharmos para o resultado final, percebemos bem a motivação. Eutanásia e aborto são palavras pesadas e são-no porque definem actos pesados. Ora, qual é a melhor forma de aligeirar a consciência de quem também quer vulgarizar as práticas? Adocicar conceitos, que de tão doces retiram gravidade aos actos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A reescrita da história é uma prática que a esquerda sempre usou, para conformar a história aos seus desejos. Agora a esquerda descobriu que neste mundo mediático e com a supremacia das redes sociais, a melhor forma de contar a sua história é alterando o vocabulário.

Esta semântica açucarada tem sido usada de muitas formas e em muitas ocasiões. Agora, por exemplo, começamos a ouvir falar de trabalho sexual em vez de prostituição. É só uma questão de semântica, dizem eles, mas verdadeiramente é já o caminho para o objectivo confesso de legalizar a prostituição em Portugal.

Este mundo de novos conceitos cheios de açúcar vem, normalmente, acompanhado de histórias comoventes, um caso por causa, que se torna bandeira para amolecer os mais resistentes e ajudá-los a interiorizar que, afinal, nada do que parece é.

Assim se tem feito o caminho das fraturâncias. Uma estratégia clara é aplicada minuciosamente para adormecer as consciências. É como o remédio dado às crianças, junta-se um pouco de açúcar e serve-se em pequenas doses e o que parecia amargo, afinal é doce.

Não se iluda, portanto, quando o Parlamento nos der o seu presente de Natal deste ano. É a eutanásia que passa a ser permitida e não a “morte medicamente assistida”. Uma bela prenda de Natal no ano que vai ficar célebre pela difusão de uma pandemia que colocou os mais idosos em posição de ainda maior fragilidade social.