Outro dia assisti ao vídeo da palestra que um comediante americano proferiu na formatura de uma universidade. Num dado momento ele dizia que precisamos aprender a nos definir por aquilo que amamos, ao invés de nos orgulharmos de estar eternamente em oposição a alguma coisa.
Fiquei pensando no assunto e percebi que, de fato, é muito mais frequente ouvir pessoas se vangloriando do próprio ódio do que dividindo suas paixões. Odeio futebol. Odeio o Corinthians. Odeio o Sporting. Odeio coentro. Odeio dias chuvosos. Odeio gente que fala alto. Odeio música pop. Odeio os textos daquela brasileira que escreve no Observador. Odeio o Facebook. Odeio chocolate amargo.
É realmente curioso observar como as pessoas passaram a identificar-se mais pelos seus sentimentos negativos do que pelos positivos. É como se o fato de odiar, detestar ou não suportar coisas desse mais credibilidade para as pessoas do que o fato de amar, gostar ou adorar algo.
O grande problema é que esse astral vai se espalhando em diversas esferas da vida. Torna-se mais prazeroso falar mal do que falar bem, reclamar do que elogiar. Falar sobre coisas boas começa a soar como superficialidade, como se o fato de não colocar-se como o feroz opositor a alguma causa seja sinônimo de ausência de conteúdo.
Em inglês a palavra “hater” ganhou destaque na última década exatamente para designar as pessoas que utilizam as redes sociais como mera forma de canalizar o próprio ódio por tudo e por nada. Um hater nem é alguém com uma opinião divergente das demais, mas um simples odiador, com o perdão do neologismo.
É normal não gostar, mas odiar parece-me dispensável. E incluir esse verbo em dezenas de frases, como se isso fosse natural, me parece uma tendência um tanto quanto doentia, uma forma gratuita de espalhar negatividade.
Talvez seja uma boa meta para 2018: odiar menos. Ou, pelo menos, se orgulhar menos do próprio ódio. Treinar, dia após dia a capacidade de orgulhar-se das coisas que amamos e não das coisas que nos desagradam.