O imenso e merecido prestígio de António Costa advém do facto de ser um político que não tem medo de inovar. Ao formar a Geringonça com o Bloco de Esquerda e com o PCP, Costa revolucionou a forma de governar em Portugal. Felizmente, a capacidade inventiva do nosso Primeiro-Ministro não se limita à política. Esta semana, António Costa ousou surpreender numa área em que, julgava eu com a minha tacanhez, parecia não haver espaço para modernização: a escrita de cartas ao Pai Natal.

A missiva que Costa enviou a Ursula von der Leyen a pedir ajuda para resolver a crise na habitação é escrita ao estilo das cartas que as crianças enviam, todos os Natais, para a Lapónia. Obviamente, tratando-se de um inventor como Costa, com notáveis aperfeiçoamentos.

Para já, é enviada em pleno Verão. Costa conta com a boa vontade de quem ainda não teve oportunidade de ler muitas pedinchices. Von der Leyen traz a boa disposição das férias e está mais inclinada a conceder desejos absurdos ao primeiro peticionário que lhe é apresentado. Os duendes nem chegaram à fábrica de brinquedos, é a melhor altura para pedir.

Depois, Costa tem o cuidado de não encher a carta com desenhos a lápis de cor, para não distrair. Deseja suscitar condescendência de outra maneira.

Mas, mais do que uma alteração formal, Costa introduz uma alteração de conteúdo. Onde os petizes garantem ao Pai Natal que se portaram bem durante o ano, que fizeram os seus deveres, cumpriram todas as obrigações e que por isso merecem receber presentes, António Costa inova e pede à Comissão Europeia que o seu presente seja fazerem os seus deveres por ele. Numa carta ao Pai Natal de antigamente, o menino Primeiro-Ministro diria qualquer coisa como “querido São Nicolau, este ano resolvi o problema da habitação em que estou há 8 anos a trabalhar, por isso peço-te uma Xbox”. Nesta versão, Costa escreve antes: “Pai Natal, trata aí da habitação, para que eu tenha tempo para jogar na Xbox que comprei com o dinheiro que saquei aos contribuintes”.

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No fundo, Costa funde a carta ao Pai Natal com a bonita tradição epistolar portuguesa, iniciada por Mariana Alcoforado no século XVII, da humilhação face a estrangeiros do Norte da Europa. Só que em vez de redigida por uma soror, é redigida por um sotor.

O único aspecto que Costa mantém inalterado na carta é a assinatura tremida. A das crianças é por ainda não saberem escrever bem o nome; a de Costa é por ele se estar a rir às gargalhadas.

Em rigor, há que reconhecer que Costa não pede ajuda apenas nas áreas em que se borrifou nas suas obrigações. Também pede em áreas em que tem feito o seu trabalhinho, como é o caso da estancagem do braindrain. Costa está preocupado com a fuga de trabalhadores portugueses altamente qualificados para outros países europeus onde lhes são oferecidas melhores condições. Daí pedir à Comissão Europeia que ajude no lado da procura. Porque, sejamos justos, do lado da oferta já Costa está a tratar. Para evitar que os cérebros portugueses saiam do país, Costa encontrou uma solução ideal: acabar com os cérebros portugueses. E, no estado em que está a Educação, vai consegui-lo! Com as greves de professores, a degradação das escolas, o falhanço da recuperação de aprendizagens e outras negligências e incompetências várias, em breve vai deixar de haver cérebros para fugir. Os únicos órgãos que vão emigrar são os pulmões, uma vez que só vamos exportar trabalhadores braçais. Em Portugal ficarão apenas os corações, que gostam muito do país; os fígados, que gostam muito do vinho do país; e os intestinos, filiados no PS pois estão-se a cagar para o país.