No dia 26 de Setembro, passou um ano desde que Carlos Moedas ganhou as eleições para a Câmara de Lisboa, depois de 14 anos consecutivos de governos entregues ao Partido Socialista. Primeiro, presididos por António Costa e a seguir, mais recentemente, presididos por Fernando Medina. O que mudou com a nova governação? Onde se notam as principais diferenças? O que é que ganhámos com Carlos Moedas? A resposta existe e divide-se em seis capítulos.

1 Escrutínio

Aumentou muito o escrutínio nos jornais e o debate público sobre os assuntos de Lisboa. Não se pode negar que existia algum, muito superficial, assente no engrandecimento das obras cometidas pelos senhores governantes da esquerda. Um certo balanço entre o desinteresse e a bajulação. Nenhum solavanco agitava as redações, a fleuma dos comentadores mantinha-se imperturbável. Essa doce displicência finou-se assim que o governo de Lisboa mudou de mãos. Paz à sua alma. As coisas da cidade ganham em ser discutidas.

2 Um certo travão

Viu-se um certo travão à parte folclórica das políticas identitárias, e aconteceu assim que Carlos Moedas recusou hastear nos Paços do Concelho a bandeira de um sub-grupo do conjunto LGBT. Salvo erro, uma bandeira trans.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Moedas fez bem. A direita, que é o eleitorado dele, que o elegeu contra uma candidatura da esquerda, e a quem Moedas, em primeiro lugar, deve explicações, essa direita eleitoral tem um olhar diferente sobre o panorama LGBT. É uma direita para quem estes assuntos estão estabilizados. Para quem os cidadãos são todos iguais, em valor, em dignidade e em direitos, e para quem esta maneira de festejar características sexuais é demagógica e contraproducente. Uma direita que não morre de amor pelos activistas, por rejeitar neles a atitude confrontacional.

Aos olhos desta direita, é importante encontrar nas pessoas o que elas têm em comum com o seu semelhante. É muito mais o que une um homossexual, ou um transexual, à pessoa desconhecida que vai sentada ao seu lado no autocarro do que aquilo que os separa. É redutor definir as pessoas com base numa única característica, e é singularmente cruel valorizar nas pessoas o único aspecto que as pode afastar dos outros. Os activistas LGBT, pelas ligações manifestas à extrema-esquerda, e sobretudo por terem no confronto o seu modo de vida, destacam as diferenças, provocam incompatibilidades e esforçam-se por perpetuar o conflito.

Manuel Luís Goucha fez mais pela aceitação dos homossexuais em Portugal do que mil grupelhos de activistas LGBT. Ninguém, a não ser os próprios, sentiria a falta deles caso desaparecessem.

3 Presépio nos Paços do Concelho

O presépio regressou aos Paços do Concelho, reconhecendo assim a pluralidade de Lisboa e a nossa raiz cultural. Sim, há muitos usos e costumes, muitas comunidades, muitas tradições e muitas religiões a viver em Lisboa e a conviver pacificamente. Graças a Deus – e, em boa parte, a um Estado Social pobreta, sobretudo se comparado com a França, a Alemanha, a Suécia ou todo o norte da Europa – não existe aqui o tipo de imigração com abundância e temperamento incompatível com a nossa sociedade. E não, os nossos dinheiros públicos não desaparecem em apoios aos pobres, nem aos imigrantes. Desaparecem, isso sim, pelos sumidouros de um aparelho de Estado obsoleto, inadequado, impune, promíscuo com os negócios; barrigudo e chocarreiro como um governante socialista.

Voltando à diversidade portuguesa, e aos nossos hábitos, parecia que todas as culturas e religiões eram bem-vindas, excepto a católica. Carlos Moedas voltou a pôr as coisas no seu lugar, mandando instalar um presépio nos Paços do Concelho. De caminho, é curioso reparar no seguinte aspecto. A esquerda, como já se disse, governou Lisboa durante os 14 anos anteriores a Carlos Moedas (e governou o país durante mais de 20 dos últimos 27 anos); por vontade da esquerda, o Natal perdia a sua natureza de celebração espiritual e religiosa, transformando-se, a pouco e pouco, num período exuberante do calendário do comércio.

4 Nenhum escândalo que se apresente

Até à data de hoje, não houve notícias de um escândalo com a Justiça. Um escândalo que se apresente. Uma coisa faustosa, ao nível olímpico do Partido Socialista. Como os de Medina, e Manuel Salgado, e as buscas da Judiciária no departamento de urbanismo. Entre outras glórias.

5 A propósito de atropelos

Também não houve nenhum atropelo às regras democráticas fundamentais. Não contam para este capítulo as minhas desconfianças face ao famoso Conselho de Cidadãos, e à maneira como muitas vezes os pequenos grupos de pressão são considerados pelo governo de Lisboa como interlocutores, em detrimento dos deputados eleitos e, esses sim, indiscutivelmente representantes da cidade – ou de uma parte dela. Tudo isto são subtilezas. Com mais ou menos boa-vontade, o capricho vai-se suportando. Por um lado, anteriormente acontecia muito mais. Estes grupelhos elevados ao estatuto de missões diplomáticas eram praticamente os únicos interlocutores reconhecidos pelo governo de Lisboa. Por outro lado, este não é o ponto principal.

O ponto principal está nos atropelos gravíssimos de que é exemplo a denúncia dos manifestantes em Lisboa contra o regime de Putin. Fernando Medina entregou os dados pessoais destas pessoas à embaixada da Rússia e ao respectivo ministério dos Negócios Estrangeiros. Não compreendeu as obrigações inerentes ao seu lugar; entre elas, estava a de proteger as pessoas que estão em Lisboa, sejam portuguesas ou não, habitantes, visitantes, seja quem for, garantindo-lhes o direito de se manifestar em liberdade e em segurança. Acima de tudo, em segurança.

Medina contribuiu para a perseguição dessas pessoas. Um gesto político gravíssimo abençoado pelo Partido Socialista, que pegou neste senhor e o promoveu a ministro das Finanças.

6 Boas-maneiras

Há uma alteração substancial na atitude dos vereadores perante os deputados. Vê-se no cuidado com que respondem às perguntas e, acima de tudo, na maneira como respeitam a oposição. Nada disto acontecia.

Nos governos anteriores, a oposição e os deputados que não vinham dos partidos apoiantes eram encarados como intrusos. As perguntas, as críticas, e os comentários que eles faziam eram tomados como uma forma de insolência: os vereadores eram a esquerda, a esquerda está no poder como quem está em casa, tem o direito natural a governar; e a governar em paz, descansadamente. Sem ter de tolerar aquela espécie de fedelhos, que se agitavam pela sala fora de horas e estavam ali para lhes perturbar o remanso.

Isso acabou. Hoje os vereadores falam com os deputados, respondem à oposição, sabem quem eles representam, e compreendem que eles merecem da sua parte todo o respeito e toda a consideração. Em Lisboa, a vida democrática corre com naturalidade.