A democracia não é um regime onde se deve fazer tudo para ganhar eleições. Dito de outro modo, a superioridade do regime democrático não resulta apenas do voto popular. As virtudes democráticas incluem a responsabilidade política, o respeito do poder político pelos cidadãos, pela lei e a honestidade do discurso político. Se não se respeita essas virtudes, a democracia torna-se num regime autoritário com eleições de quatro em quatro anos.

Tragicamente para a democracia portuguesa, o PS transformou-se num partido que apenas quer ganhar eleições. Abandonou a responsabilidade política, a seriedade e, assim, o respeito pelos portugueses. O caso da demissão de Eduardo Cabrita é uma demonstração da degradação causada pelo PS à democracia portuguesa.

O antigo ministro Cabrita começou por mentir, dizendo que não havia sinalização das obras na autoestrada. Afinal, as obras estavam sinalizadas. E foi uma mentira cruel. Implicitamente, colocava-se as culpas na vítima do acidente. A crueldade continuou com a indiferença, a frieza e a arrogância do governo perante a família da vítima. O ministro nem sequer teve a dignidade de comparecer no enterro.

Durante meses, o governo escondeu a velocidade do carro, bem acima do limite legal. À deliberada falta de transparência, o governo acrescentou a irresponsabilidade política. Eduardo Cabrita disse que era simplesmente “um passageiro.” O ministro falou como se tivesse apanhado um Uber para ir a Évora.

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Como qualquer pessoa informada sabe, o membro do governo é responsável pelo que se passa no carro oficial e o motorista é um funcionário que trabalha para o ministro. Eduardo Cabrita foi o responsável pelo excesso de velocidade. Um ministro responsável não permite excessos de velocidade, a não ser em casos absolutamente excepcionais. Em democracia, os ministros não se comportam como se estivessem acima da lei.

Mas a crueldade não acabou no acidente, continuou na demissão do ministro. O funcionário do governo, o motorista, foi sacrificado, com a acusação de homicídio involuntário a servir para desculpar Cabrita. Na “democracia socialista”, os poderosos safam-se e os fracos são sacrificados.

Cabrita só disse a verdade quando confessou que apenas se demitira para não prejudicar o partido socialista nas eleições. Ou seja, tudo o resto é secundário, para os socialistas só interessa vencer eleições. O PM ajudou à festa quando se mostrou indignado com o “aproveitamento político“ do acidente da A6. O governo socialista comporta-se como um regime autoritário. Nas ditaduras, é que se reduzem as críticas legítimas e o escrutínio democrático a “aproveitamento político.” A cultura da ditadura da I República continua bem viva no PS.

A tragédia Cabrita mostra como a irresponsabilidade, a mentira e a insensibilidade perante o sofrimento dos cidadãos comuns são as marcas do PS. Se se preocuparem com a saúde da nossa democracia, as oposições não podem deixar de atacar durante a campanha a cultura anti-democrática do PS. Não é a demissão de Cabrita que resolve o problema. Se os portugueses também se preocupam com a democracia do nosso país, devem afastar o PS do governo. Um partido que se comporta com esta crueldade perante os trabalhadores e os indefesos não merece governar.