Desde 2015, muita da discussão na política portuguesa tem sido à volta de “muros” e de “linhas vermelhas.” Grande parte da discussão tem sido liderada pelo PS e tem servido sobretudo os interesses dos socialistas. Pelo menos, até agora.

Em 2015, para justificar a aliança com o PCP e com o Bloco, António Costa afirmou que o muro entre as esquerdas “tinha caído.” Anos depois, André Ventura fundou o Chega e o PS viu aí uma oportunidade para construir “linhas vermelhas” à direita. Sem muros entre as esquerdas, e com muros entre as direitas, o PS ficava mais perto da sua velha ambição: a hegemonia da política nacional tornando-se no partido natural de poder, afastando o PSD para a perpétua oposição.

Esta estratégia tornou-se o dogma do PS. De tal modo que PNS ainda não percebeu que o muro à direita começou a cair na sua cabeça depois das eleições nos Açores. O dogma tornou-se de tal modo forte que PNS foi incapaz de contar toda a verdade aos portugueses. Para justificar a sua oposição a um governo minoritário da direita, disse que nos Açores a AD não podia governar quando ganhava (como agora) ou quando ficava em segundo (como em 2020). O que PNS não disse foi que em ambos os casos havia e há uma maioria de direita no parlamento açoriano. E isso é decisivo. Em 2000, o PSD ficou em segundo, mas havia uma maioria de direita no parlamento açoriano, por isso o PS não conseguiu formar governo. O PSD açoriano fez o que o PS tinha feito em 2015 a nível nacional. Agora, a AD ficou em primeiro sem maioria absoluta, mas com maioria de direita no parlamento. Por isso, Vasco Cordeiro não conseguiu repetir a geringonça de Costa de 2015.

Ou seja, o que PNS disse não é verdade. O PSD só pode governar quando fica em primeiro ou em segundo porque em ambos os casos houve uma maioria parlamentar de direita. Tal como, se houver uma maioria parlamentar de esquerda, o PS governa ficando em primeiro ou em segundo lugar.

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Após 2015, a questão fundamental da política portuguesa é a natureza da maioria parlamentar, de direita ou de esquerda. António Costa levantou um muro que não existia na política portuguesa desde 1976: um muro entre a esquerda e a direita, ou entre o PS e o PSD (ou a AD).

É este muro construído por António Costa que caiu em cima de PNS nos Açores e pode acontecer o mesmo no dia 10 de Março. Havendo uma maioria de direita na Assembleia da República, haverá um governo de direita liderado pela AD. E se a AD for o partido mais votado, pode mesmo liderar um governo minoritário. Nesse cenário, PNS só tem duas soluções. Ou derruba o muro do centro erguido por António Costa, e permite um governo minoritário da AD. Ou está disponível para votar ao lado do PCP, do Bloco e do Chega contra o governo da AD, e leva com o muro na cabeça.

O PS quis fazer do Chega um problema para o PSD e a AD. A partir de 10 de Março, o Chega pode ser o principal problema do PS.