Nenhum partido, com excepção talvez do PS, deseja ter eleições neste momento. E se existissem eleições nesta altura o PS, muito provavelmente, voltava a ganhar, embora sem maioria absoluta, o que criava um problema de governabilidade para se somar ao da governação. Mas, simultaneamente, o primeiro-ministro parece ter perdido o interesse em liderar o Governo e enfrenta igualmente dificuldades em atrair quem queira integrar a sua equipa, seja de ministros e secretários de Estado, seja de gabinetes.

É neste bloqueio que se encontra o regime. É neste ponto que está o Presidente da República. Resta a Marcelo Rebelo de Sousa usar a palavra, pública ou privada, para tentar que António Costa segure e lidere o seu Governo, em suma, que governe. Esperando simultaneamente que não aconteça mais nada que o obrigue a dissolver a Assembleia da República, embora sabendo que não tem nenhuma garantia de que nos próximos dias não apareça mais um caso.

Sim, o Presidente fala em excesso, mas neste momento tem um problema muito complicado para resolver. E, no curto prazo, só consegue mitigar esse problema se António Costa colaborar. O que não é fácil. Já que o primeiro-ministro tem mostrado que não sabe o que fazer com uma maioria absoluta e uma montanha de fundos europeus. E a fase de degradação em que entrou o seu Governo cria-lhe dificuldades acrescidas, nomeadamente em encontrar novos membros ou até em criar um espírito de equipa nos que lá estão. António Costa parece só saber governar quando é preciso fazer jogos de poder, como acontecia nos tempos da Gerigonça e da pseudo-Gerigonça.

O que se passou no Ministério das Infraestruturas no dia 26 de Abril é grave em todas as frentes. E o primeiro-ministro sabia que a decisão de manter João Galamba teria como consequência aquilo a que assistimos na semana passada. Quer João Galamba como a sua chefe de gabinete podiam ter-se preparado melhor para evitarem a identificação de contradições, que retiram credibilidade à descrição que fazem dos acontecimentos dessa noite de 26 de Abril. E, por contraponto, acabam por dar credibilidade ao relato do adjunto. Como consequência, está gerada uma onda avassaladora, que faz com que os factos e as provas sejam desvalorizados, encontrando-se contradições mesmo onde elas não existem. E vendo legitimidades muito discutíveis.

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Este é o problema no presente. Mas o do futuro pode ser muito mais grave.

Em mais de sete anos de governação, o PS capturou praticamente todo o aparelho do Estado com pessoas da sua confiança ou, pior do que isso, que são do partido como quem é doente por um clube de futebol. Além disso, a estratégia que usou para reduzir o défice público degradou os serviços públicos, privando-os da contratação de quadros e do investimento em equipamentos de manutenção. É nesse estado que está a Saúde, a Educação, a Justiça, as Polícias.

O Estado confunde-se com o PS, como aliás foi bem ilustrado na forma como João Galamba e os outros ministros enfrentaram o problema que se passou no Ministério das Infraestruturas. Os próprios serviços actuam como se estivessem ao serviço do PS-Governo, como se viu pelo comportamento dos Serviços de Informação. E se não foi assim, já deveria ter explicado melhor porque teve de ir buscar o computador quando não tem esse poder.

O PSD, partido que com elevada probabilidade se seguirá ao PS, terá pela frente a tarefa hercúlea de reconstruir as instituições partidarizadas, depauperadas e muitas delas incapazes de funcionar com profissionalismo, quer por incompetência, quer porque se consideram mais ao serviço do partido PS do que ao serviço do País.

A intervenção do ex- Presidente da República Aníbal Cavaco Silva no Encontro Nacional de Autarcas Social-Democratas é um retrato certeiro e arrasador sobre o que se está a passar e que serve obviamente para o PSD se mobilizar e ter maior qualidade e pensamento nas suas intervenções, mas que deveria igualmente servir para os militantes do PS refletirem sobre aquilo que estão a fazer ao País. Depois de ter levado o país ao colapso financeiro em 2011, o PS corre o risco de conduzir ao colapso das instituições. Foi isto que simplificadamente avisou Cavaco Silva. E as instituições não se recuperam com dinheiro, são muito mais difíceis de reconstruir e têm elevados custos. Como têm demonstrado economistas como Daron Acemouglu, as instituições são determinantes para o desenvolvimento.

Estamos a viver tempos muito complicados, em que o regime não está a encontrar uma solução para o país sair do bloqueio em que se encontra.