A campanha para eleger o novo líder é de uma pobreza que mete dó; e revela muito sobre no tipo de partido em que o PS se transformou. Até agora, com mais de duas semanas de campanha, tudo se resume a um ponto: qual é a melhor estratégia para continuar no poder. Pedro Nuno Santos confia no seu carisma, nas convicções socialistas e na sua influência no aparelho para vencer. Ataca o seu adversário, José Luís Carneiro, por não criticar com dureza suficiente o PSD e a direita. Preocupa-se, no entanto, com a sua imagem de radical, e por isso tudo fez para conquistar o apoio de Francisco Assis. O crítico mais feroz da geringonça de 2015 agora já a acha normal. Entre os socialistas, mais tarde ou mais cedo, o apelo do poder é mais forte de qualquer convicção. Estará Assis a caminho de Bruxelas, de regresso ao Parlamento Europeu ou para o lugar de Comissário, se PNS chegar a São Bento?
Por seu lado, José Luís Carneiro tenta convencer os seus camaradas de partido que PNS continua o radical de sempre e que dificilmente ganhará as eleições se for escolhido como líder do PS. Para Carneiro, enquanto ele inspira confiança, PNS assusta a maioria dos portugueses. Ou seja, a campanha socialista reduz-se a descobrir quem é mais radical e quem é mais moderado.
De resto, não há qualquer sinal de uma discussão sobre políticas públicas e sobre o que preocupa os portugueses. Quais são as propostas dos candidatos para a o serviço nacional de saúde? Ninguém sabe. O que pensam os concorrentes socialistas sobre o estado da educação? Ninguém os ouviu dizer uma palavra sobre o assunto. Crescimento económico? Transição energética? Carga fiscal? Não existem nas cabeças de PNS e de JLC.
De certo modo, entende-se que nenhum queira discutir políticas públicas porque isso significaria assumir os fracassos dos governos de António Costa, o que ambos recusam fazer. Eles estiveram nesses governos. São figuras centrais do que aconteceu em Portugal desde 2015. Nisso ambos adoptam uma posição semelhante, uma espécie de quadratura do circulo: não encontram problemas nos últimos oito anos, mas querem convencer os portugueses que iniciam um novo ciclo político no PS. O que há de novo em PNS ou em JLC? Nada. Com eles, as políticas de saúde, de educação e fiscais continuariam a ser exactamente as mesmas. Seria mais do mesmo.
Quando falam do passado, ignoram os últimos oito anos, mas regressam ao período entre 2011 e 2015. A culpa do que está mal continua a ser do governo de Passos Coelho. Por vezes, parece que PNS e JLC estão em 2015 a concorrer à liderança do PS.
Mas já que os candidatos socialistas gostam tanto de falar do período da troika, devem responder à seguinte questão: se o período da troika foi tão duro para os portugueses, por que razão o SNS e a educação pública estavam melhores em 2015 do que agora depois de oito anos de governos socialistas? Obviamente, JLC e PNS não podem fazer esta pergunta um ao outro. Mas espero que todas as direitas passem a campanha a fazer essa pergunta ao futuro líder socialista. E que não parem enquanto não tiverem uma resposta. Por que estão as políticas sociais piores agora em 2023 do que estavam em 2015 depois de três anos de intervenção externa?