António Costa tomou posse pela primeira vez como primeiro-ministro no dia 26 de Novembro de 2015. Com a maioria absoluta alcançada no passado dia 30 governará previsivelmente até 2025, ou seja, durante uma década. Importa então reflectir como deixará Costa o país, já que antes de si apenas Cavaco Silva conseguiu governar tanto tempo.
Em 2015 o PS prometeu “virar a página da austeridade”, o governo de António Costa acabou com os cortes nos salários e pensões impostos pela troika (trazida pelo seu antigo primeiro-ministro, José Sócrates), retomou as 35 horas para os funcionários públicos e “repescou” os feriados que a troika tinha suspendido. Toda a governação desses quatro anos se baseou numa narrativa, desfazer o que nos foi imposto pelo exterior. Faltou apenas dizer que o próprio António Costa fez parte dos governos que nos levaram a pedir a intervenção externa.
Durante os seus primeiros quatro anos como primeiro-ministro, António Costa limitou-se a desfazer o que estava feito, o mantra “virar a página da austeridade” mais não era do que o próprio programa de governo, os seus parceiros da “geringonça” exigiram e tiveram a reversão da privatização de empresas públicas como a TAP, o metro e a Soflusa/Transtejo. Esse foi o preço a pagar para a viabilização do primeiro governo de Costa. Num governo com estas características, temas como o crescimento e liberdade económica, empreendedorismo ou geração de riqueza não podiam ser uma prioridade. Durante quatro anos o país focou-se na redistribuição. Acontece que entre 2000 e 2019 a economia portuguesa estagnou e registámos um crescimento medíocre médio anual de 0,5%, ou seja, não produzimos riqueza suficiente para redistribuir.
Os dois primeiros anos do segundo governo de Costa foram marcados pela pandemia. Se na primeira legislatura o foco esteve na reversão e na “viragem da página da austeridade” agora estamos na “viragem da página da pandemia”. Na verdade, a forma como o governo lidou com a pandemia, paralisando a economia, foi uma escolha política que teve consequências graves, quer a nível económico quer também de saúde pública, uma vez que países que adoptaram uma estratégia diferente da nossa acabaram por ter menos mortes causadas pela Covid-19 e menos destruição de riqueza, como no caso da Suécia.
Agora que se avizinham mais quatro anos de governo socialista, desta vez com maioria absoluta, suspeito que mais uma vez os verdadeiros problemas do país não serão endereçados. Questões como a demografia, a saúde, o crescimento económico ou o ambiente (sobretudo a questão da água) serão problemas com que Portugal se debaterá nos próximos 20 anos.
Segundo o Censos de 2021, Portugal perdeu cerca de 214 mil pessoas, e por cada 100 jovens existem agora 182 idosos. Sejamos claros, sem pessoas não é possível o país crescer e fazer crescer a riqueza. Sendo este um problema com repercussões económicas, as consequências sociais são também enormes. Temos hoje um interior cada vez mais desertificado, com idosos isolados, e sem capacidade de atrair mão de obra estrangeira.
“Uma sociedade funciona quando as pessoas plantam árvores à sombra das quais sabem que nunca chegarão a estar”. Li este provérbio japonês no livro de Miguel Pinto Luz, é esta noção de futuro que falta à sociedade portuguesa, e só isso explica a mais recente maioria absoluta do PS. Espero que o próximo líder do PSD traga ao partido o ímpeto reformista e a visão de que o país precisa e que é fundamental para fazer renascer a esperança.