É dos livros (mais do que da prática, felizmente) a crítica gravidade de uma economia em paragem.
Muito pior se se trata da paragem forçada de múltiplas economias interligadas, caso da UE.
Um cenário em espiral crescente desses – que hoje é real – pede a tomada urgente de soluções que têm de ser equitativas e de acesso simples e claro.
A onda recessiva que corre o risco de engolir todas as economias europeias trouxe outra vez para cima da mesa (e muito apropriadamente) a necessidade de um plano Europeu concertado de ajuda financeira alargada urgente do tipo do Plano Marshall (do nome do Secretário de Estado dos EUA ao tempo, George Marshall – oficialmente: Programa de Recuperação Europeia).
Tratou-se do principal plano norte – americano para a reconstrução dos países aliados da Europa nos anos pós II Guerra Mundial.
O essencial do plano foi uma ajuda financeira a 4 anos (a partir do ano de 1948) que a valores actuais correspondeu globalmente a disponibilidades injectadas nas economias nacionais de cerca de 100 biliões de US dólares.
O desenho e a implementação do Plano Marshall, contudo, exigiu novas mentalidades, desburocratização, partilha, corresponsabilização, estímulo à produtividade e um sindicalismo inteligente e cooperante.
Além de ter mobilizado soluções inovadoras, novos modelos de negócios, mais flexíveis e eficientes.
Outro aspecto importante, as subvenções do Plano Marshall foram concedidas a uma taxa mínima partilhada por todos e com um impacto relativamente reduzido nos orçamentos dos países receptores.
Pela sua própria razão de ser, a UE não pode configurar um plano de ajuda financeira no contexto da presente crise pandémica de forma egoísta, parcelar e redutora.
Como uma alternativa possível entre outras ou descartando opções.
Na situação trágica e de absoluta emergência que a Europa vive presentemente, um plano generoso e compartilhado de ajuda financeira urgente às economias Europeias é a única forma de a UE responder à sua primeira vocação de factor e instrumento de reconciliação, de integração, de estabilidade e prosperidade.
Numa palavra: de paz.
Contudo, hoje por hoje, faltam à Europa líderes carismáticos, que saibam trabalhar incansavelmente para aqueles objectivos.
Sobram tarimbeiros formados nas escolas do ressentimento e da baixa contabilidade, sem a compreensão, a generosidade e o à-vontade indispensáveis na política de alto nível de âmbito internacional.
A falta de solidariedade exibida pela Alemanha e pela Holanda na cimeira extraordinária de chefes de Estado e governo dos 27 países da União Europeia da passada quinta-feira, dedicada à crise do novo coronavírus, não é apenas mesquinha, mas totalmente transgressora do espírito e da lei dos tratados europeus.
Que descarta de forma grosseira e simplista a realidade de uma catastrófica crise de saúde pública global, que é progressiva e interestadual, e se tem mostrado imparável até ao momento.
No plano europeu de emergência financeira pode ser uma boa ideia a emissão de títulos de dívida europeia (as já chamadas coronabonds) ou outro instrumento desse tipo mais inovador.
O que não é aceitável e é mesmo impossível de aceitar no quadro do projecto Europeu são posições liminares de atraso e rejeição de medidas inovadoras e a persistência do recurso a soluções antigas, de alcance reduzido e de risco não partilhado, como a já falada abertura de linhas de crédito a partir do Mecanismo Europeu de Estabilidade.
E não serve o argumentário germânico (que será com certeza desmentido a curtíssimo prazo) de que todos os países da zona euro ainda se conseguem financiar neste momento nos mercados financeiros a taxas muito baixas. Até quando?.
Quem não perceber a nova crise em todos os seus múltiplos aspectos e contingências não percebeu nada. E no final do dia, se a EU não acudir realmente num todo às economias em paragem a Europa cairá no precipício de uma brutal recessão.
Depois até podem sobrar planos, mas já não dará. E ao Brexit inglês podem também seguir-se outros, com toda a justificação. A Itália e a Espanha já estiveram muito mais longe.
Não há tempo a perder.