As eleições legislativas antecipadas foram o melhor que podia ter acontecido ao CDS. Se o próximo acto eleitoral fosse as eleições europeias seria praticamente impossível para o CDS eleger e o caminho até às legislativas de 2026 seria quase inevitavelmente de erosão. Assim, surge uma oportunidade de ouro para ressuscitar o CDS, ainda que vá ser muito difícil ultrapassar a pressão do voto útil à direita.
Em Novembro de 2021 – portanto ainda antes das legislativas de 2022 nas quais o CDS perdeu a representação parlamentar – apresentei aqui vários argumentos favoráveis a uma fusão do CDS com o PSD concluindo que:
“Uma eventual fusão evitaria um (cada vez mais provável) desastre eleitoral do CDS e possibilitaria ao PSD consolidar-se no centro-direita e reforçar a sua capacidade para enfrentar e limitar o crescimento da Iniciativa Liberal e do Chega.”
Como voltei a realçar já depois das legislativas, num sistema partidário cada vez mais fragmentado, a fusão do CDS com o PSD proporcionaria ao CDS um final digno e possibilitaria o aproveitamento de vários bons quadros que o partido ainda retém. A alternativa, que as eleições antecipadas tornam possível, será o CDS ir a votos sozinho procurando reverter o desastroso resultado de 2022. Para isso, o partido terá de conseguir posicionar-se como relevante num contexto em que CH e IL já estão já bastante consolidados e dão sinais de crescimento. O caminho (muito) estreito que poderá possibilitar ao CDS ressuscitar passa por se distinguir claramente do progressismo da IL em matérias sociais (que em alguns dos seus membros se assume mesmo como fundamentalismo woke) ao mesmo tempo que se consiga apresentar como uma alternativa de direita conservadora mais estável, segura e credível do que o CH.
Certo é que, se quiser aproveitar esta oportunidade para tentar ressuscitar, o CDS deverá mesmo apresentar-se a eleições com listas próprias. Pedro Pestana Bastos resumiu bem as implicações prováveis dos dois caminhos alternativos que se colocam ao CDS:
“O CDS ou quer diluir-se no PSD ou quer voltar ao Parlamento como partido autónomo. Ambas as opções são legítimas mas se quer regressar por direito próprio terá de ser com o seu programa e os seus candidatos. Saiu do Parlamento sozinho terá de regressar sozinho.”
O que nos conduz precisamente à crucial questão da escolha dos candidatos. Considerando apenas os círculos onde poderá haver alguma possibilidade de eleição, o CDS teria tudo a ganhar caso conseguisse persuadir Cecília Meireles ou Adolfo Mesquita Nunes a encabeçar a lista por Lisboa. Cecília Meireles seria também uma excelente opção para cabeça de lista pelo Porto, sendo outras possibilidades menos expectáveis mas interessantes conseguir recuperar para o partido como candidato pelo Porto o ex-líder da JP e ex-deputado Michael Seufert. Ainda pelo Porto, uma opção interna competente, articulada e com significativo capital político local seria Isabel Menéres Campos. Por Aveiro, faria provavelmente sentido apostar em João Almeida ou, em alternativa, uma opção local com capital político associado à experiência autárquica. Finalmente, por Braga faria todo o sentido que o cabeça de lista fosse Nuno Melo (ainda que Lisboa seja também uma opção compreensível).
Caso o CDS opte por tentar ressuscitar, uma escolha cuidadosa e criteriosa dos candidatos será fundamental. Os erros de 2022 não devem ser repetidos. Neste sentido, seria também interessante como sinal de união ter nas listas, mesmo que em lugares não elegíveis, Francisco Rodrigues dos Santos, Assunção Cristas, José Ribeiro e Castro, Manuel Monteiro e, claro, Paulo Portas.