É a expressão mais usada no dia a dia dos portugueses. E é uma expressão que diz muito de quem somos e do que somos. Desconfio que foi uma expressão inventada pelos nossos antepassados que, na época da maior epopeia portuguesa, decidiram ficar por cá e “não embarcar em aventuras”. Nós, os portugueses de 2022, somos os descendentes desses. Os descendentes dos outros, dos que deram novos mundos ao mundo, esses ficaram a explorar outras paragens.
Vem isto a propósito do que a espuma dos dias nos vai trazendo. São normalmente más notícias, mas não surpreendentes. Em maio, o Banco de Portugal, liderado por Mário Centeno, diz-nos que Portugal é um dos países em que o baixo nível de formação dos pais com maiores dificuldades financeiras é mais determinante na educação dos filhos. Este é, diz o relatório, “o maior entrave ao desenvolvimento de qualquer país”. É um diagnóstico que todos conhecemos há muito tempo, incluindo o governador do Banco de Portugal, que já foi ministro e que bem se podia ter preocupado com o tema nessa altura.
Sabemos todos que temos um problema na educação, agora agravado com a também mais do que previsível falta de professores. E o que foi feito? Nada. Fomos andando a ver no que dava.
Em Portugal, apenas 18% dos filhos de pais com o 9º ano conseguem alcançar o ensino superior. Todos os outros ficam algures entre o 9º ano (56% dos filhos) e o 12º ano. A conclusão é óbvia, estamos a falhar na maior tarefa de um país: entregar à nova geração um país melhor do que aquele que recebemos. Não é ideologia. É eficácia. Não vale a pena passar o tempo todo a falar de défice, percentagens do PIB e outros indicadores económicos quando, ao mesmo tempo, desprezamos o nosso maior ativo: a preparação das novas gerações.
Como é possível que quem defende a liberdade, a igualdade de oportunidades, o socialismo democrático, a social-democracia, o liberalismo e outros “ismos” não marxistas, não tenha no topo da sua agenda política o facto de vivermos num país em que filho de pobre está destinado a ser pobre?
É função do Estado garantir que todos têm iguais oportunidades. Esta é que deve ser a preocupação de quem define as políticas de educação. Caso contrário, condenamos os nossos filhos à mediocridade. Pelo menos os filhos dos que têm menos posses. Esses têm que se contentar com o que o Estado tem para lhes oferecer. E nos últimos anos o que já era mau piorou:
- A falta de professores já atingiu tais níveis que há milhares de alunos que já podem ter como certo que no próximo ano letivo não vão ter os professores necessários.
- Os alunos mais pobres têm cada vez menos opções. O sacrossanto Ministério da Educação decidiu acabar com os contratos de associação que tiveram ao longo de anos um papel determinante para que muitos alunos com menos possibilidades tivessem acesso a um ensino de qualidade.
- Aquilo que mais preocupa os responsáveis pelo setor da educação é garantir que todos os tópicos do politicamente correto são ensinados na escola.
- Os incentivos à autonomia e melhoria da qualidade de ensino nas escolas são nulos.
Se continuarmos a “ir andando” sem olhar para o caminho, não há PRR, Governo ou União Europeia que nos valha.