Se navegarmos na internet pelo Chrome e clicarmos em rehumanize.me percebemos que o motor de busca nos leva directamente para uma espécie de App que é uma extensão deste mesmo Chrome, expressamente criada para substituir certas palavras por ‘seres humanos’. Criada em inglês, esta App por enquanto só detecta palavras escritas em inglês, mas foi criada com o objectivo de as substituir por ‘seres humanos’. Falo de palavras como ‘’immigrants’, ‘refugges’, ‘boat people’ e ‘asylum-seeker’, entre outras, que imediatamente passam a ser lidas como ‘seres humanos’, seja no plural ou no singular, dependendo do contexto.
Esta re-humanização do olhar é absolutamente vital num tempo em que assistimos à maior crise de refugiados/migrantes que existiu desde a II Guerra. Acordamos e adormecemos com imagens que doem, que revoltam e indignam, mas também com a notícia de que fracassou a reunião de emergência em Bruxelas, porque os ministros da Administração Interna e da Justiça da Europa não chegaram a um acordo sobre a distribuição de mais de 120 mil pessoas. A decisão foi adiada para dia 8 de Outubro, mas até lá era importante que todos fizéssemos o download da App rehumanize.me. Políticos e cidadãos, quero dizer. Está nas nossas mãos fazer alguma coisa por estes seres humanos que todos os dias arriscam a vida por terem a esperança de um dia poderem recomeçar tudo num mundo possível. Hoje são eles, amanhã podemos ser nós.
Acredito que no dia em que deixarmos de reduzir estas pessoas a conceitos mais ou menos generalistas, no dia em que conseguirmos voltar olhar para as imagens sem ver multidões, descobrindo em cada um destes homens e mulheres, em cada um destes jovens e crianças alguém que podia ser eu, o meu filho, a minha filha, o meu pai, a minha mãe, o meu irmão ou algum dos meus amigos, nesse dia teremos re-humanizado o nosso olhar. Fomos capazes de o fazer quando o pequeno Aylan deu à costa, mas depressa voltamos a olhar sem ver. Pesam-nos as ameaças (todas e tantas, de tantos quadrantes!), atordoam-nos os números, desesperam-nos certas imagens, indignam-nos gestos e gritos que vemos e ouvimos repetidas vezes, chocam-nos os muros e os imensos rolos de arame farpado, mas muitos de nós acabamos por ser tomados por uma paralisia que nasce da dor, da frustração e da sensação de impotência. É pena, porque re-humanizar o olhar passa por agir. E por tentar ver o que podemos fazer para ajudar outros seres humanos que são em tudo iguais a nós, com os mesmos recursos e potencialidades, os mesmos sonhos e anseios. Salva-se o facto de sabermos que hoje acordamos com a certeza do impasse dos políticos da alta política, mas amanhã um grupo alargado de cidadãos, na sua maioria universitários, vai reunir-se em Lisboa, no Cupav – Centro Universitário Padre António Vieira, para saber como pode contribuir para ajudar a PAR – Plataforma de Apoio aos Refugiados – a multiplicar os apoios e a cultivar uma nova atitude de acolhimento e integração.