Federica Mogherini, Alta Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, admitiu em Lisboa que as notícias que tem vindo a receber sobre o conflito na Ucrânia “não são boas” e que a União Europeia não vai permitir que o cessar-fogo de Minsk não seja implementado na sua totalidade. Ao lado do ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, a também vice-presidente da Comissão Europeia disse que a Líbia e o avanço do Estado Islâmico no país são o principal ponto de preocupação da UE na vizinhança do Sul.

Pela primeira vez em Portugal, a nova chefe da diplomacia da União Europeia encontrou-se durante esta terça-feira com Cavaco Silva em Belém, com Pedro Passos Coelho e com o ministro da Defesa, Aguiar Branco, mas falou apenas aos jornalistas após o encontro com Rui Machete. Durante o almoço de trabalho no Palácio das Necessidades – onde a ementa consistiu em cherne e tortas de Azeitão – Mogherini e Machete falaram sobre a situação instável no Magrebe, muito afetado pelo alargamento das ações terroristas do autoproclamado Estado Islâmico, o processo de paz no Médio Oriente e os países de língua portuguesa em África.

Quanto à Ucrânia, Federica Mogherini disse que na noite de segunda-feira falou com a chanceler Angela Merkel e com o presidente ucraniano Petro Poroshenko, dizendo que o cumprimento dos acordos de Minsk “não são encorajadores” e as notícias “não são boas”. “A Ucrânia precisa de uma implementação completa”, disse a italiana em Lisboa, não admitindo para já que o acordo é um falhanço.

A Alta Representante da UE para os Negócios Estrangeiros anunciou que em março vai começar a trabalhar mais de perto com os 28 Estados-membros para fortalecer as relações com África, esperando que Portugal possa contribuir para este novo fórum. Dos lusos, Federica Mogherini disse ainda esperar cooperação para a relação com a América Latina, dados os laços de amizade que unem Portugal a esta parte do continente africano, nomeadamente com o Brasil.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Mogherini quer redesenhar a política externa europeia

Já na Assembleia da República, numa audiência conjunta entre a comissão de Defesa, a comissão de Negócios Estrangeiro e a comissão de Assuntos Europeus, a vice-presidente da Comissão Europeia disse que quanto ao problema da imigração, “não é possível fechar as fronteiras e deitar a chave fora”. “A Europa tem uma história de imigração e isso fez a nossa riqueza”, disse Mogherini perante os deputados portugueses, referindo que a melhor maneira de resolver tragédias como as que acontecem diariamente em Lampedusa é “fortalecer a imigração legal”. Segundo a italiana, esta questão será debatida no colégio da Comissão Europeia já a 4 de março.

A Alta-Representante disse ainda que está a trabalhar de forma muito próxima com o português António Guterres, Alto Comissário da ONU para os Refugiados, para ajudar a resolver os problemas nos países de origem dos imigrantes ilegais.

Para além de reforçar a importância da cooperação de Portugal no que diz respeito a África e à América Latina, Federica Mogherini disse que quer reunir o apoio dos parlamentos nacionais para relançar a estratégia de segurança da União Europeia, agora que – e após a implementação da Estratégia Solana – o mundo e as condições em que a Europa se encontra são muito diferentes do que eram há uma década.

Em resposta aos deputados portugueses, Mogherini assegurou que decidiu “tocar todos os assuntos” mais delicados, incluindo a paz no Médio Oriente, já que “não há maneira da situação continuar assim entre Israel e na Palestina”. “Será do interesse de todos reiniciar as conversações e com um papel importante da União Europeia”, afirmou. Sobre a iniciativa da Alemanha e da França nos acordos de Minsk, a italiana disse que não iria “pôr em perigo algo que pode ter sucesso só por não ser uma iniciativa europeia”, afirmando que a Comissão Europeia tem dado todo o apoio a Hollande a Merkel.

Os deputados mostraram-se desagradados com a visita relâmpago de Federica Mogherini à Assembleia, considerando que o tempo foi insuficiente para debater o número de assuntos que interessam a Portugal na política externa europeia.

Federica Mogherini esteve na segunda-feira em Madrid, onde se encontrou com Mariano Rajoy e onde anunciou que se vai deslocar na quinta-feira a Washington de modo a reunir-se com John Kerry, secretário de Estado norte-americano e altos representantes da ONU para discutir a situação na Líbia.