A ministra das Finanças de Portugal assumiu uma posição dura com o Governo grego na reunião desta sexta-feira do Eurogrupo, assumindo “posições firmes sobre o procedimento” a seguir a partir de agora, diz uma fonte do Governo ao Observador. “Nada que ver com a substância do acordado, com que todos acabaram por concordar”, acrescenta a mesma fonte.
Nas horas que se seguiram ao final da reunião, uma televisão grega noticiou que Portugal e Espanha tentaram bloquear o acordo, que foi construído antes da reunião pelo presidente do Eurogrupo, com o comissário europeu Moscovici e a diretora do FMI, Christine Lagarde – adiando até o início da reunião, com reuniões separadas destes três representantes das instituições com Wolfgang Schauble e Yanis Varoufakis.
#Greece Skai tv reports Spain and Portugal tried to block the deal btwn Greece-Eurozone and had strong objections
— Efthimia Efthimiou (@EfiEfthimiou) February 20, 2015
A questão foi colocada logo na primeira conferência de imprensa da noite a Dijsselbloem, presidente do Eurogrupo. E a resposta foi precedida por um silêncio, seguido por um “tivemos acordo total, tivemos discussão sobre os próximos passos, como vão ser aprovações parlamentares – tudo isso foi clarificado”, diz Dijsselbloem. A pergunta era sobre alguns ministros terem ficado descontentes com a decisão. Pelo meio houve ainda uma graça do presidente do Eurogrupo: “Estava a tentar não ser específico”. Mas a resposta veio, nestes termos:
“Tivemos acordo total, tivemos discussão sobre os próximos passos, como vão ser aprovações parlamentares – tudo isso foi clarificado”, diz Dijsselbloem.
Um pouco mais tarde, a questão foi colocada ao próprio Varoufakis, numa altura em que já circulava que só a posição da Comissão e do FMI tinha demovido Maria Luís Albuquerque, Luis de Guindos e Wolfgang Schauble: “Portugal e Espanha foram contra?”
A resposta de Varoufakis também veio depois de uma pausa. “Eu comprometi-me a dizer a verdade, mas também há uma coisa chamada boas maneiras. Foi claro na reunião que os ministros de Espanha e Portugal que são motivados pelas prerrogativas políticas deles, eu respeito isso. Também é verdade que a Grécia pediu quantias significativas destes países (para Portugal foi menos porque o país é pequeno, mas proporcionalmente não foi insignificante). Eu em 2010 fui completamente contra estes empréstimos, porque era claro que não iam funcionar. O importante é termos uma conversa sensível sobre como a Grécia — e também Portugal — podem crescer e pagar as suas dívidas. Para fazer isto tenho que manter uma boa relação com a minha colega. Permitam-me, assim, que não continue esta conversa a este ponto.”
Luis de Guindos, ministro espanhol, falou também com os jornalistas em Bruxelas (ao contrário de Maria Luís Albuquerque). E classificou como “muito positivo” o acordo, dado que “cumpre todas as exigências” colocadas por Madrid – desde o pagamento da dívida ao cumprimento das condições por parte de Atenas.
“É um acordo que permitirá ter quatro meses de discussão sobre o acordo futuro e, por outro lado, que cumpre todas as exigências que tinha colocado o Governo espanhol e muitos outros governos”. O ministro espanhol negou ter tentado bloquear o acordo e disse ter tido uma atitude “construtiva” – sublinhando que “ao mesmo tempo tinha que defender os meus interesses. As regras vão respeitar-se e respeitou-se este acordo totalmente”, assegurou, citado pelo El Mundo.
Segundo apurou o Observador, a reunião foi tensa entre estes protagonistas, essencialmente pela descrença dos três governos (não só destes) na capacidade de o Governo grego cumprir as regras negociais da zona euro. A fé em que o acordo conseguido – vago ainda em vários pontos – tenha desenvolvimentos consistentes da parte de Varoufakis é muito reduzida, embora exista plena consciência da vontade das instituições em segurar a Grécia na zona euro. Isso implica pelo menos que esta extensão do acordo (e do memorando) até junho seja cumprida sem mais problemas.
Já na manhã desta sexta-feira, o primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, foi bastante duro com a posição assumida pelo Executivo de Alexis Tsipras. No debate quinzenal na Assembleia, respondeu nestes termos a uma crítica de Heloísa Apolónia, dos Verdes:
“Diz que há 18 malandros que querem impor condições à Grécia porque querem provar que não há crescimento sem austeridade Como se fosse uma prova de sobrevivência. É importante manter uma espécie de programa inviável naquele país. Este é o seu ponto de partida e está errado. No dia em que a Grécia demonstrar que consegue crescer sem o dinheiro dos outros, serei o primeiro a dar razão à senhora deputada. Assim é muito fácil, assim também eu faço. Com o dinheiro dos outros é tudo muito simples”.
Garantindo que “não há nenhum acinte contra a Grécia”, Passos rematou assim: “Não estou a lutar pela minha sobrevivência política. Estou a defender as minhas convicções”.
No núcleo duro do Governo português há, porém, uma outra convicção: de que quanto mais tempo se der à Grécia para ir “contornando as regras” (ou “fingir”, na expressão de outra fonte ouvida pelo Observador), mais difícil pode ficar a situação política na Europa.