A recessão durante a troika foi, afinal, bem mais profunda do que aquilo que se pensava, com a economia portuguesa a sofrer uma recessão de 4% em 2012, o valor mais alto dos últimos 40 anos, e de 1,6% em 2013, indicou esta quinta-feira o Instituto Nacional de Estatística (INE).

Esta quinta-feira, o INE publicou uma revisão das contas nacionais para 2012, que tiveram consequências no Produto Interno Bruto desde esse ano em diante. O resultado foi retirar em média, entre 2012 e 2014, mais de 1.500 milhões de euros ao PIB.

A justificação, segundo o INE, deve-se à incorporação de mais informação a que a autoridade estatística entretanto teve acesso. Essa nova informação afetou especialmente os valores do investimento, com o INE a não dar grande detalhe, para além de que terá identificado “situações de exportação de bens de equipamento para filiais no estrangeiro, de bens de equipamento usados, de reexportação, ou ainda captar informação mais sólida sobre variação de existências”. Estes tiveram agora um contributo negativo para o PIB.

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Fonte: INE

Nos casos das revisões de 2013 e 2014, a mudança inclui, para além do valor base que é mais baixo decorrente da revisão em baixa do valor do PIB para 2012 “a incorporação de informação atualizada para o setor das Administrações Públicas e do comércio internacional de bens e serviços”.

O resultado final, é um cenário ainda mais negativo que se calculava anteriormente: a recessão foi, afinal, de 4% em 2012, bem pior que o imaginado por Governo e troika, desde o início do programa.

Se olhamos para as previsões do PIB para 2012 desde o início do programa, pode-se observar que as autoridades começaram a apontar para uma queda do PIB na ordem dos 1,8% e terminaram, julgava-se, em quase o dobro, nos 3,3%. Afinal, a recessão chegou a uns históricos 4%, o valor mais altos dos últimos 40 anos. Pior que este registo só em 1975, no tumultuoso período no pós-25 de abril, quando a economia caiu 5,1%.

No acordo inicial, a troika esperava uma queda mais acentuada da economia no ano de 2011, 2,2% do PIB em vez dos 1,8% que se registaram nas contas finais. No entanto, as quatro décimas de resultado melhor que o esperado desapareceram no ano seguinte (com o resultado agora mais ainda) com a economia a cair 4% em vez dos 1,8% iniciais.

Em 2013, segundo os novos dados do INE, a economia terá caído novamente 1,6%, significativamente mais negativo que a previsão inicial quando se esperava que a economia já estivesse a crescer 1,2%, mas a determinada altura a troika esperou pior: na sétima revisão, a revisão mais longa e complicada do programa (a última antes da demissão de Vítor Gaspar) a troika chegou a esperar que a recessão nesse ano chegasse aos 2,3%.

O resultado não foi tão negativo quanto o esperado nessa altura. Na 8.ª e 9.ª revisão, que ocorreram em simultâneo a previsão foi logo alterada para uma recessão de 1,8%. Ainda assim, na última avaliação concluída por Portugal, a 11.ª revisão, a expectativa é que a recessão não fosse superior a 1,4% do PIB: terminou então nos 1,6%.

Já no que diz respeito a 2014, já aconteceu de tudo. Sendo uma previsão a mais longo prazo, naturalmente continha maiores incertezas quando em 2011 foi construído o programa, quando se previa que a economia já estivesse a crescer 2,5%. No ponto mais baixo, na sétima revisão do programa, chegou a esperar-se que a economia crescesse apenas 0,6%. Agora, segundo o INE, o resultado final terá sido um crescimento de 0,9%, perto dos 1% da última estimativa do Governo (que começou nos 0,8%, passou para 1,2% e estabilizou nos 1%).

Troika leva 6,6% do PIB

Em três anos de recessão apenas – 2011, 2012, 2013 -, a economia portuguesa caiu cerca de 7,6%. Com o crescimento verificado no ano passado, nos quatro anos que tiveram a troika em Portugal (apesar de esta ter estado apenas metade de 2011 e de 2014), a economia portuguesa terá caído em termos reais cerca de 6,6%.

Para a economia voltar aos níveis anteriores à chegada da troika, descontando o efeito de preços, a economia teria de crescer em termos reais cerca de 7% (face aos níveis de 2010).