O chefe de missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) defende que seria um erro Portugal avançar com políticas expansionistas como forma de impedir o abrandamento da economia no atual contexto e dá o exemplo da estratégia da indústria portuguesa do calçado como exemplo da adaptação que a economia portuguesa precisa.

Numa coluna de opinião publicada no Jornal de Negócios, a propósito dos 13 anos do jornal, Subir Lall diz que “Portugal encontra-se agora numa encruzilhada” com a economia a abrandar e o desemprego ainda acima de 12%, mesmo com politicas orçamentais (internamente) e monetárias expansionistas: “O que é preciso ser feito? A sabedoria convencional apelaria a uma combinação de políticas expansionistas a título orçamental e monetário para relançar a retoma. A sabedoria convencional estaria errada”, defende.

O responsável do FMI defende – como o tem feito desde 2013, quando começou a liderar a missão para Portugal -, que a economia portuguesa só cresce através de reformas estruturais em áreas como o mercado de trabalho, onde afirma que Portugal está “claramente atrás dos seus pares” no nível da proteção do emprego, mas também no grau de desenvolvimento da indústria transformadora, da concorrência e do grau de integração com cadeias de valor globais.

Para ilustrar o seu ponto de vista, Subir Lall usa a indústria do calçado português. Diz o economista que a indústria do calado é um bom exemplo de um setor apto a prosperar e que quando se viu confrontado com a investida do mercado asiático, com produtos mais baratos, os fabricantes decidiram competir pela qualidade e fizeram um investimento em novos equipamentos, conseguindo aumentar significativamente as exportações e as receitas.

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Teixeira dos Santos, o ministro das Finanças que pediu o resgate ao FMI e à União Europeia, também aceitou o repto do Jornal de Negócios sobre como Portugal pode deixar de depender da sorte, e apontou a um objetivo semelhante ao de Subir Lall, mas por um caminho diferente.

O membro do último Governo de José Sócrates diz que, sem acesso à política cambial, a política da troika foi a da redução significativa dos salários com fortes efeitos recessivos para a economia portuguesa, mas que Portugal conseguiu repor o equilíbrio externo. Agora, para evitar “recaídas”, Teixeira dos Santos diz que Portugal “tem de saber preservar e reforçar uma posição competitiva na economia global”, sem usar a política cambial ou impor empobrecimento do seus cidadãos.

Para isso, diz, tem de haver uma melhoria da produtividade, de forma sustentada e significativa. Esta será, na sua visão, a única forma de reforçar a eficiência e competitividade da economia e de poder melhorar as remunerações dos portugueses. Essa melhoria só chega se houver investimento. Investimento em infraestruturas, em equipamentos, instalações e investimento em pessoas, nas suas qualificações, na sua educação e formação profissional, diz.

“Se não o fizermos, outros serão chamados a fazê-lo. E como já pudemos constatar em três ocasiões, ao longo das últimas quatro décadas, sê-lo-á pela via do empobrecimento”, conclui o antigo ministro das Finanças.