A Generalitat, o governo catalão. deu esta sexta-feira uma conferência de imprensa onde explicou toda a logística do referendo deste domingo, 1 de outubro.

O governo regional assegurou que vão existir mais de 2.300 assembleias de voto e estão chamadas a votar 5.343.328 pessoas. Pelo menos 7.235 voluntários foram selecionados para ajudar na logística do referendo – de um total de 50 mil pessoas que se candidataram.

Os membros da Generalitat revelaram que as urnas vão estar abertas entre as 9h da manhã e as 20h da noite (8h e 19h em Portugal).

Os membros das mesas de voto vão chegar ainda de madrugada aos colégios eleitorais para garantir que estes abrem. A conselheira da Educação do governo regional, Clara Ponsatí, assinou uma declaração em que assume total responsabilidade pelas escolas e restantes centros educativos que vão ser utilizados para o referendo, deixando imunes de culpa todos os que realmente lá estiverem, em caso de rusga policial.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Durante a conferência de imprensa, a Generalitat mostrou as urnas que vão ser utilizadas no referendo. São caixas de plástico brancas com insígnias a preto. Ainda assim, o governo regional pediu durante a semana que os eleitores acumulassem caixas de cartão que pudessem ser usadas como urnas – caso as forças policiais apreendam as oficiais.

As autoridades já apreenderam 2,5 milhões de boletins de voto e 45 mil convocatórias de membros de mesas eleitorais.

O gigante espanhol El Corte Inglés também já anunciou que não vai abrir as portas no domingo por precaução, com receio de que a tensão salte para as ruas.

Catalunha. El Corte Inglés não abre no dia do referendo

A decisão advém de outra já tomada pelo pequeno comércio, que vai manter as lojas fechadas com medo de que a rebelião se transforme em pilhagem. A Zara e a Massimo Dutti, contudo, já fizeram saber que vão abrir todas as lojas em Barcelona.

A Assembleia Nacional Catalã, uma organização da sociedade civil que lidera o processo independentista, quer os seus associados nos colégios eleitorais a partir das sete da manhã (seis de Lisboa) para distribuírem os boletins de voto e organizarem as pessoas que, segundo o mesmo grupo, vão estar “em filas gigantes e ordenadas”.

Os avisos dos governantes

A Generalitat está a recomendar “resistência pacífica, zero violência e máxima audácia”. Pediu para “não se enfrentar os Mossos d’Esquadra”, a polícia da Catalunha, no caso de esta força policial atuar contra a consulta popular suspensa pelo Tribunal Constitucional espanhol. Os bombeiros daquela região garantiram à população que vão manter a calma e assumir o controlo das operações, desrespeitando por completo a Guardia Civil e a Polícia Nacional.

O Tribunal Constitucional espanhol suspendeu, como medida cautelar, todas as leis regionais aprovadas pelo parlamento e pelo governo da Catalunha que davam cobertura legal ao referendo de autodeterminação. Ainda assim, a Generalitat repetiu esta sexta-feira insistentemente que “os catalães vão poder votar”. Entretanto, a ONU recomendou prudência a Madrid no que toca ao impedimento da entrada das pessoas nas assembleias de voto.

O responsável catalão dos Negócios Estrangeiros enviou uma carta à União Europeia em que pediu apoio dos parceiros internacionais da questão da realização do referendo e da própria independência. Raúl Romeva afirmou que as instituições europeias “têm de entender que este é um assunto importante” e acusou o governo central espanhol de “uma repressão brutal”.

Restrições no espaço aéreo – e outras limitações

O governo de Mariano Rajoy anunciou esta sexta-feira que vai colocar em prática restrições no espaço aéreo catalão. Ainda assim, as regras só se aplicam a avionetas e helicópteros. A comunicação social da Catalunha apressou-se a dizer que estas medidas serviam para evitar as imagens aéreas das prováveis manifestações nas ruas de Barcelona, mas os responsáveis do governo responderam que este é o protocolo habitual – que costuma ser posto em prática quando há jogos grandes em Camp Nou ou no Grande Prémio de Moto GP de Barcelona.

Raúl Romeva, o responsável pelos Negócios Estrangeiros, disse em Bruxelas que se o ‘sim’ vencer, a Generalitat proclama a independência 48 horas depois.

A tensão em Barcelona está a crescer de dia para dia e este frente-a-frente entre governo central e governo regional deixa prever que os ânimos se exaltem nas ruas catalãs no próximo domingo. A Generalitat diz que todos votam, Rajoy diz que ninguém vota – a verdade é que só dia 1 de outubro é que vamos descobrir como é que esse dia vai ser descrito nos livros de História do futuro.

Políticos presos, financiamento congelado, acusações de traição. Sete respostas para perceber o que se passa na Catalunha