A Gold Coast, na Austrália, recebe em abril do próximo ano mais uma edição dos Jogos da Commonwealth, um evento multidesportivo que junta cerca de 5.000 atletas de 71 países. Em 2018, o logo da competição será “Share the Dream”, “Partilha o Sonho” em português. E essa é também a mensagem de Laurel Hubbard, atleta de 39 anos de halterofilismo da Nova Zelândia que será a primeira transexual a participar na competição.

Quando ainda era homem, Laurel, então Gavin, chegou a ter o recorde nacional júnior do país, na categoria de +105kg: 300 quilos. No entanto, quando participou na primeira e única prova masculina com 20 anos, terminou em último. Após seis anos de transição, tornou-se em março deste ano a primeira transexual a ganhar uma competição feminina, no Torneio Aberto Internacional da Austrália. O feito foi muito destacado, mas entre esse momento e a qualificação para os Jogos da Commonwealth houve algumas mudanças de opinião. Como Michael Keelan, o presidente da Federação da Austrália de Halterofilismo.

“Será interessante ver o apoio que terá na comunidade, mas penso que está na disposição de fazer muita história. E pode ser um grande modelo a seguir pelos outros”, disse em março, citado aqui pelo El Español. “Se foi um homem, se levantou certos pesos e se de repente se converte numa mulher, psicologicamente sabe que já levantou esses pesos antes. Não acredito que a competição esteja nivelada e acho que esta é uma ideia partilhada por muita gente no desporto”, referiu agora após o apuramento. “Se estivesse nessa categoria, não sentiria que compito em igualdade”, sublinhou a australiana Deborah Acason, que participa na categoria de +75kg.

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A verdade é que, depois de já ter sido aprovada pelo Comité Olímpico Internacional (o principal órgão desportivo do mundo a este nível) e pela Federação Neozelandesa de Halterofilismo, foi agora confirmada como uma das 12 atletas do país nos Jogos da Commonwealth, na recente categoria de -90kg e vai cumprir um sonho improvável, sobretudo tendo em conta o contexto em que fez a transformação.

https://twitter.com/AndySwan/status/933914650613354497

Como conta a publicação, Dick Hubbard, magnata dos cereais que em novembro de 2004 era presidente da cidade de Auckland, assinou, com a mulher e mais algumas pessoas reconhecidas em termos locais, uma polémica carta onde se manifestava contra o casamento homossexual e a possibilidade de pessoas gays terem descendentes biológicos. 13 anos depois, a sua filha Laurel, então Gavin, prepara-se para fazer história.

Mas nem tudo é uma história cor de rosa para a atleta neozelandesa. Longe disso. E isso percebe-se pela nuvem de ceticismo que continua a deambular em torno de Laurel e que nem o facto de ter passado todos os testes de testosterona realizados em competição ou fora dele servem para diminuir esse estado, como se percebeu logo em março pela boca de Iuniarra Sipaia, segunda classificada no Torneio Aberto Internacional da Austrália.

Foi injusto perder porque no fundo, é um homem, apesar de ter feito a operação de mudança de sexo. Só muda a parte física, porque as emoções e a força continuam a ser de um homem. Por mais que treinemos, todos sabemos que a força de uma mulher nunca será igual à de um homem”, comentou a halterofilista de Samoa.