Em vários países as leis da prevenção rodoviária vão evoluindo. A preocupação pelo incentivo ao uso de transporte, como a bicicleta, em vez do automóvel, traz atritos como em todas as mudanças e novas leis de prevenção, mas que, com menos de um ano de implementação vão estar enraizadas e tidas como indispensáveis.

Imagina-se a guiar sem o cinto posto, ou a ultrapassar o limite de álcool no sangue ou sob o efeito de drogas? E no entanto, antes destas obrigatoriedades, também houve espaço para argumentos do contra.
A preocupação por maior prevenção de danos nas pessoas trouxe, há uns anos, a discussão da lei do limite de álcool e com ela, manifestações e argumentos como: vai baixar o consumo interno de álcool e a curto prazo, decréscimo do mercado dos vinhos, o português aguenta mais o álcool que o estrangeiro, etc. O uso do cinto de segurança obrigatório, primeiro no condutor depois no “lugar do pendura” foi mais um exemplo. Antes de a lei passar, lá vieram os grupos do contra: o uso do cinto causa danos no corpo quando há embate, pode cortar o pescoço, muitas são as vidas salvas pelo corpo ter saltado fora do carro no embate, o cinto vai impedir isso. E continua…

Agora o uso obrigatório de capacetes em bicicletas. Os argumentos, ainda não manifestados com afinco, não serão muito mais imaginativos: o capacete vai fazer as pessoas recorrerem menos ao uso da bicicleta, com o capacete vão andar mais depressa por falsa de sensação de proteção.

Enfim, se está como certo que o estado regula medidas rodoviárias para proteção de terceiros e também medidas de prevenção e proteção do próprio, então, leis a proteger a obrigatoriedade de uso dos cintos de segurança e capacetes, têm de ser aceites sem discussão. Entre outras. As motas e bicicletas na estrada são um abuso ao risco de dano corporal no caso de quedas ou médio/grande acidente. O dano corporal e o dano cerebral não se comparam nas sequelas que trazem à vida.

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A Associação Novamente, que há 7 anos apoia famílias e vítimas de dano cerebral grave, sabe o quanto toda a família é transformada por um dano cerebral e a própria vítima tem de aceitar-se como nova pessoa, com deficiências. O cérebro é o mandatário de todo o nosso corpo e de todo o nosso ser. É o eixo central de todos os comandos, devendo ser protegido a todo o custo. O risco de estar no meio do tráfego com a cabeça nua é uma loucura. Mais vale estragar o penteado e ter calor na cabeça, do que ficar uma vida sem se conseguir pentear ou saber o que é uma bicicleta.

É uma lei que como todas as outras, hoje é vista com adversidade e cheia de entraves e muito depressa se vai achar o cúmulo não usar o capacete. É só ultrapassar com coragem política os argumentadores do contra.

As evidências de que o uso de capacete faz diferença no diminuir de deficiência, morte e sequelas por dano cerebral no ciclista não estão em causa. Temos fortes posicionamentos em vários países com a campanha “Use your head”, fortemente apoiada pela British Medical Association, a Association of Paediatric Emergency Medicine e em estudos publicados como o “Thompson and Rivera” que afirmar que o capacete diminui em 83% as vítimas de dano cerebral. O estudo intercontinental “Thompson et al. Cochrane Database Syst Rev. 1999” que analisou casos em Inglaterra, Austrália e EUA para apoiar com dados da prova do quanto o capacete evita dano cerebral, assim como outros estudos com conclusões semelhantes no Transport Research Laboratory.

Use a cabeça e não ande na via rodoviária sem proteger a sua cabeça, seja numa mota, como numa bicicleta.

Diretora Executiva da Associação Novamente