O título pode parecer demasiado óbvio para a maioria das pessoas: Mas todos nós ambicionamos excelência quando lançamos uma empresa ou produto, ou não?

No mundo das startups, o mantra mais comum é construir um MVP (minimum viable product – produto minimamente viável) de forma a validar hipóteses rapidamente, antes de investir mais tempo, recursos e dinheiro no desenvolvimento de um produto ou serviço completo. Tornou-se popular através do livro “Lean Startup”, de Eric Ries, e depressa se transformou no modus operandi da maioria das startups (e na minha também). O que quer isto dizer? Significa desenvolver um produto que tenha impacto junto dos primeiros utilizadores, alguns dos quais estarão dispostos a pagar por ele ou a dar feedback valioso. Isto também significa que o produto não será tão bom quanto sabemos que poderá ser, em benefício do tempo que leva a colocá-lo no mercado (que é, provavelmente, o factor de sucesso mais importante).

No caso de produtos web, podemos fazer mudanças muito rapidamente, de maneira a iterar “coisas” como a conversão de landing pages, o rácio de cliques de conversão para um sign-up e até eventuais pagamentos. E é por isto que eu acredito que construir um MVP é definitivamente o caminho a seguir quando se trata de produtos ou serviços na web. Aprendi isto cedo, mas da maneira mais difícil: Criei uma solução completa logo à partida, acabando por descobrir mais tarde que tínhamos desenvolvido um produto que, na verdade, poucos queriam. E isto foi antes de a palavra “startup” se tornar famosa em Portugal.

Entretanto, os tempos mudaram e nós também.

Hoje em dia, e quase todas as semanas, ouvimos falar de uma nova startup acabada de nascer em Portugal; o financiamento inicial está mais acessível do que nunca (com investidores nacionais como a Faber Ventures, Caixa Capital ou a Portugal Ventures), e a imprensa já dedica imensa atenção a jovens empreendedores, o que ajuda a que uma startup comece a ganhar alguma tração desde o inicio. O custo de desenvolvimento de produtos deste género também decresceu de forma bastante significativa, estando disponíveis, hoje em dia, uma série de plataformas que permitem construir facilmente um MVP de forma a validar o nosso modelo de negócio rapidamente.

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No entanto, e se por um lado se tornou mais fácil construir um produto de qualidade, por outro, as expectativas dos utilizadores tornaram-se muito mais exigentes. Se olharmos para as aplicações móveis, em particular, os utilizadores e clientes são hoje muito mais exigentes – a escolha dos ícones que permitem que estejam visíveis no seu ecrã inicial é só um exemplo. Se o que se pretende é construir uma aplicação móvel, então o objetivo deverá ser assegurar uma estadia de longa duração nesse ecrã. Hoje mais do que nunca, a única forma de o conseguir é desenvolvendo um produto realmente fabuloso.

Se ao menos fosse assim tão simples…

Andrew Chen, um “guru” de métricas e crescimento de aplicações móveis que lidera os programas de aquisição de condutores para a equipa de crescimento da Uber (um exemplo de uma app incrível), escreveu recentemente um post acerca do MDP – minimum desirable product (produto minimamente desejável). Ele afirma que este é a mais simples experiência necessária para validar uma experiência satisfatória e de elevado valor para os utilizadores.

No mundo das aplicações móveis, nem sempre nos podemos dar ao luxo de avançar ao ritmo da nossa mente (até agora os processos de revisão eram por vezes demasiado demorados – enquanto escrevo este artigo fico a saber que a partir de agora será tudo mais rápido) e, ao mesmo tempo, estamos constantemente a ser avaliados face a aplicações de topo como o Facebook, Instagram, WhatsApp ou Uber, que fazem parte do dia a dia de todos nós. O mais certo é que não tenhamos o mesmo poder de engenharia destes gigantes (ou ainda não) e, portanto, a única forma de nos destacarmos é criando uma experiência para o utilizador verdadeiramente sólida aliada a um design diferenciador.

Ao investir em todos os aspectos do desenvolvimento de produto no início do processo, a minha experiência diz-me que devemos focar-nos nos seguintes:

  • Respeitar as guidelines relativas ao sistema operativo para o qual estamos a programar (o que desenhamos para a plataforma Android pode nem sempre funcionar em iOS, por exemplo);
  • Aproveitar as últimas tecnologias postas à disposição pelas plataformas em que estamos a trabalhar;
  • Integrar a plataforma de análise de dados mais apropriada logo de início, para que possamos entender os padrões de uso antecipadamente e reagir rapidamente

E são estes os benefícios de investir logo à partida na criação de um grande produto:

A Equipa

Cada produto é um reflexo da equipa que está por detrás dele. Da mesma maneira que o interface do utilizador é o canal entre este e a funcionalidade de um produto, o produto em si, é um canal entre os utilizadores e a equipa de pessoas que está a tentar resolver o problema.

Fui recentemente relembrado disto, aquando uma entrevista com um programador jovem e talentoso, lhe perguntei por que razão estava interessado em fazer parte da nossa equipa. A resposta dele fez eco em mim: “Consigo perceber, pela forma como o produto está construído, que vocês trabalham bem em equipa e que prestam muita atenção aos detalhes. O vosso produto diz-me que esta é uma empresa onde eu poderia aprender e fazer a diferença”. Isto deixou-me a pensar. Bastou-lhe olhar para o nosso produto para perceber que trabalhamos bem em equipa.

Através do investimento no desenvolvimento de um produto de excelência, não só fazemos as delicias como retemos os nossos utilizadores, e atraímos talento de topo para a nossa empresa – e este será sempre o seu ponto mais forte: A Equipa. À medida que mais e mais startups emergem, garantindo mais oportunidades de financiamento, mais difícil se torna o recrutamento de talento. Necessitas de todas as armas que conseguires reunir, e maximizar o desenvolvimento do teu produto de forma a atrair talento, é a mais poderosa de todas. Então aqueles programadores, designers e marketeers ideais para ti, vão vir ter contigo já que valorizam o design e a experiência de utilização acima de tudo.

Financiamento

Quando procurei investidores, no início da Hole19, bati em algumas portas fechadas. Na verdade, mais do que algumas – foram 87 os investidores que não quiseram investir num produto como o que tínhamos para oferecer. Embora seja fantástico que consigamos construir e escalar uma startup com base em retorno financeiro logo desde o início (o famoso “bootstrap”), a maioria das startups olha para o financiamento como forma de acelerar o seu crescimento ou de fazer decolar o seu negócio.

Na verdade, essas 87 reuniões com investidores, e cerca de 10 decks diferentes, permitiram-me chegar à 88ª reunião com um investidor que acabou por nos dar o “sim” de que precisávamos. E correu realmente bem, e sem apresentação nenhuma. Foi tudo graças à user experience e ao design que tínhamos desenvolvido para o nosso produto. Nunca vou esquecer o que me disse na altura: “Se a tua equipa consegue desenvolver um produto tão bom com os recursos limitados os que vocês tiveram até agora, imagino o que poderão construir quando tiverem dinheiro”.

Investir no desenvolvimento de um produto de excelência poderá ajudar a chamar a atenção de investidores que são especialistas em criar e escalar produtos e que podem ajudar-vos a crescer.

Distribuição

“Desenvolve e eles aparecerão” – esta é a frase que me faz mexer na cadeira cada vez que a ouço. A distribuição é, de longe, o tópico mais subestimado e os fundadores estreantes não pensam o suficiente acerca dele. Para mim, é também um dos mais importantes. Nem todas as aplicações têm a sorte de conseguir uma viralidade alucinante ou de ter um crescimento orgânico que abre caminho para o sucesso. Através do investimento na tecnologia que estamos a desenvolver, a user experience que desenhamos, e o nível de serviço ao consumidor que temos disponível, será mais provável que as grandes plataformas de distribuição, como sejam a Apple ou a Google, nos contactem no sentido de nos apoiarem com a promoção do produto. Termos um destaque numa destas plataformas pode ser o equivalente a centenas de milhares de euros investidos em publicidade, o que, conforme sabemos, é difícil de atingir.

Muitas pessoas assumem Lisboa como sendo a nova Berlin ou a soalheira (adoro esta palavra) irmã mais nova de Londres. Não devemos comparar-nos a outras cidades ou ecossistemas. Devemos antes focar-nos naquilo em que somos realmente bons, e eu adoraria ouvir as pessoas dizerem simplesmente que estão a ser desenvolvidos os melhores produtos web e mobile, a partir de Lisboa.

Temos os melhores ingredientes, e só nos falta conseguir descobrir qual é a melhor receita!

Anthony Douglas é fundador e CEO da Hole19