3 de Março: “O Conselho de Finanças Públicas deverá fazer uma reflexão profunda sobre a forma como tem feito previsões e não pode funcionar como um organismo que cria pânico e cria desconfiança na execução orçamental, não contribuindo até para a execução orçamental. E isso é um elemento a rever” – Eurico Brilhante Dias, deputado PS.

3 de Março: “Milagre é Teodora Cardoso ainda ter salário e ocupar o lugar que ocupa” – Miguel Tiago, deputado do PCP.

5 de Março: “O governo deve iniciar um processo com base em falha grave para substituir o governador” do Banco de Portugal” – Catarina Martins, dirigente do BE.

5 de Março: O governador do Banco de Portugal “não tem condições” para exercer as funções e o BdP não pode ser “uma sucursal do Banco Central Europeu” – Jerónimo de Sousa, dirigente do PCP.

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Passámos claramente para outra fase, as máscaras estão a cair. Já não há qualquer preocupação em disfarçar. O cerco vai apertar-se para já em torno daqueles que ainda detêm poder suficiente para questionar a verdade oficial sobre a nossa situação económico-financeira e, o que ainda é mais importante, ocupam cargos que podem colocar em Bruxelas essa verdade oficial em causa. Por isso, de um momento para o outro, Carlos Costa e Teodora Cardoso ficaram no olho do furacão. É preciso legitimar e apresentar como indispensável o seu afastamento. A operação cerco já começou.

Já vimos isto no passado quando as mesmas pessoas montaram um cerco ao então PGR, Souto Moura. Onde antes estava a Justiça está agora o controlo das entidades que devem supervisionar as finanças públicas e a nossa articulação com o BCE.

Nunca a esquerda e as esquerdas da esquerda se questionaram ou foram questionadas pela forma vergonhosa como para salvar o PS estavam dispostas a destruir a PGR e o homem que a chefiava. Agora estão aí a repetir os procedimentos. Para salvar outro homem, António Costa, que tinha de ser primeiro-ministro para não assumir uma derrota. E para garantir que se blindarão no poder.

Para já o alvo principal é Carlos Costa. A ligeira descompressão da artilharia sobre o ainda governador do Banco de Portugal na fase da montagem do Orçamento de Estado era absolutamente necessária pois havia que evitar que Carlos Costa repetisse o braço de ferro do orçamento passado em que o Governo tinha dado como adquirido que o Banco de Portugal pagaria 240 milhões de dividendos e o governador optou por manter em provisões uma parte desses dividendos, tendo entregue apenas 183 milhões de euros.

Este ano Carlos Costa quase triplicou a quantia entregue em dividendos: 450 milhões. Se o fez porque achou que a situação se tinha alterado somos levados a acreditar que o governador se enganou pois a percepção de risco face à dívida portuguesa agravou-se. Se o fez porque achou que desse modo comprava a paz com o Governo enganou-se ainda mais: assim que os dividendos estivessem inscritos no OE o governador tornava-se dispensável.

Entretanto, e graças à intervenção do ministro das Finanças (precisamente o mesmo Mário Centeno que Carlos Costa considerou não reunir a combinação de atributos necessária para liderar o Departamento de Estudos Económicos do Banco de Portugal), já está sentado o camarada-controleiro Louçã no Conselho Consultivo do BdP. De agora em diante, a não ser que Bruxelas mande calar a canzoada, todos os dias diminuirá o espaço respirável em torno do governador.

O facto de nunca se ter desmontado a superioridade moral do socialismo-estatismo ainda mais reforça essa táctica: a qualquer dia, a qualquer momento, a qualquer hora somos convocados em nome da pátria a não perguntar nada sobre a CGD e a gritar por causa das off-shores ou dos serviços prestados por privados na saúde.

Nada disto espanta a quem se interessa pelas tácticas de Lenine mas o que não deixa de irritar é como um século depois esta forma de conquista do poder e de captura das instituições continua aí triunfante, sempre em nome de mais justiça, mais liberdade, mais transparência… enquanto se vai fazendo precisamente o contrário.

Outros e não interessa se são ou não simpatizantes ou militantes socialistas sucederão a Carlos Costa e Teodora Cardoso. Dada a legislação inquisitorial do racismo, do feminismo, das quotas, do género… aprovada em catadupa qualquer coisa servirá: um director-geral que se esqueceu das refeições vegetarianas; um instituto que não contratou nenhum negro; um responsável que não aceitou a candidatura de uma senhora com burka ou de um homem com saias. E depois, claro, há sempre a conta bancária no estrangeiro que não interessa se guarda dinheiro tributado e ganho licitamente, ou uma multa, ou um qualquer detalhe que as manas Mortágua logo transformarão num crime.

Sócrates deixou o país falido e enterrou-se a si mesmo num processo judicial. António Costa vai deixar um país igualmente falido mas ao contrário do que aconteceu com Sócrates sairá de São Bento não para a cadeia mas muito provavelmente para uma candidatura a Belém, onde procurará chegar como candidato da esquerda e das esquerdas da esquerda.

E em São Bento quem fica? Seja quem for, seja de que partido for terá a cercá-lo os comissários que agora estão a prepara-se para substituir aqueles cujos nomes surgem nos títulos dos jornais e Catarina Martins nos diz aos domingos já não terem condições para desempenhar os seus cargos.

PS. Para não ofender os estalinistas, seus parceiros de governação, o PS fez um texto mal atamancado e estrambólico sobre o genocídio da Ucrânia em que escreve esta coisa ininteligível: “Entre os anos de 1932-1933 o povo da Ucrânia sofreu as consequências da Grande Fome (Holodomor), consequência de políticas agrárias sobre os camponeses, cujo trágico e horrível desfecho passou pela perda de milhões de vidas humanas pela fome.” Portanto a culpa do genocídio da Ucrânia foi dos técnicos agrários e não do Estaline?