A incursão do navio russo hidrográfico russo na Zona Económica Exclusiva portuguesa pode ter sido mera coincidência, mas, tendo em conta, os dois incidentes com os aviões militares da mesma nacionalidade, os portugueses devem ter consciência que o nosso país faz parte da Aliança Atlântica e, por isso, têm de ter presente a nova doutrina militar russa.

Nos discursos, Vladimir Putin, Presidente da Rússia, não se cansa de repetir que o Direito Internacional é para respeitar, acrescentando que o seu país só e apenas faz isso, enquanto que os Estados Unidos é que fazem o contrário.

Só Washington tem uma política de dois pesos de de duas medidas, pois Moscovo não se desvia nem um milímetro das normas internacionais. Mesmo a anexação da Crimeia e o apoio aos separatistas na Ucrânia têm explicação no “direito dos povos à autodeterminação”, embora se saiba que Putin fez com que o seu obediente parlamento aprovasse leis que preveem graves penas para quem defende o separatismo ou o direito acima citado na Rússia.

Em casa, o Kremlin segue o princípio da “inviolabilidade das fronteiras”, ou seja, e aqui pego numa das muitas “imagens literárias” a que tanto gosta de recorrer o dirigente russo “o urso guarda a sua taiga”, mas, no antigo espaço soviético, todas fronteiras são relativas desde que não satisfaçam os desejos de Vladimir Putin e dos seus homens.

Além do mais, os aviões militares portugueses participam no patrulhamento dos céus dos países do Báltico e não devemos pensar que apenas temos de pagar pelo gasóleo e a manutenção dos aparelhos. Não, nós não temos unicamente custos económicos, temos também políticos, que podem vir a ser ainda maiores. Esta é talvez a maior das explicações para o aparecimento de aviões militares e navios hidrográficos russos perto do espaço aéreo e da zona económica exclusiva portugueses.

Quando cito a letra do Hino de Portugal “Sobre a Terra e Sobre o Mar”, apenas o faço para lembrar que a actual guerra fria, não é feita, como aconteceu entre 1974 e 1975, entre o Partido Comunista Português e as forças democráticas: Partido Socialista, Partido Popular Democrático e Centro Democrático Social, com as super-potências por trás, mas tem um carácter mais globalizado. Fazemos parte da NATO e da União Europeia e temos de ter consciência disso. A guerra da Ucrânia tem lugar no outro extremo do continente, mas as distâncias são outras, mais curtas, quase que imediatas.

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