José Sócrates esteve esta sexta-feira em Lisboa a dar o braço a Francisco Assis, na campanha para as europeias. No entanto, o ex-primeiro-ministro recusou fazer a tradicional descida do Chiado com os ex-líderes do partido. Questionado sobre se faria a descida, respondeu:
“Se há característica que me conhecem é que não tenho medo, muito menos medo da direita e muito menos insultos da direita”, disse.
Na semana anterior, Francisco Assis tinha garantido que Sócrates iria participar na descida do Chiado. Não vai, disse. E explicou que não o fará porque a descida é para “candidatos e para todos aqueles que têm responsabilidade política”.
O nome de José Sócrates foi o mais falado na campanha da Aliança Portugal. Uma situação que o ex-líder do PS considerou tratar-se de uma “obsessão” numa campanha em que “a direita e em particular Paulo Portas – que aproveitou para fazer um trabalho sujo dentro da coligação -, alternaram entre o ódio e a imbecilidade”. “Foi difícil perceber onde começava um e acabava o outro”, disse o ex-primeiro-ministro. “Há momentos em que o desespero nos leva ao ódio, mas o ódio sempre foi mau conselheiro”, rematou.
A presença de José Sócrates no almoço na Trindade em Lisboa foi acompanhada por alguns populares que chamavam por ele. À entrada, Sócrates aproveitou ainda para dizer que acredita que o PS vai ganhar: “Tenho uma surpresa para eles: vão também perder as eleições e fizeram tudo isso com um único objetivo de esconder o debate fundamental, o debate sobre estes três anos de subida de impostos, de cortes nos vencimentos e nas pensões já atribuídas. E tivemos os três anos em que a dívida pública mais subiu. Como é que alguém pode justificar isto?”.
Sócrates apenas marcou presença na Trindade, mas sem discurso. O almoço marcou também o encontro entre António José Seguro e José Sócrates, ex-líder do partido, e António Costa, apontado como possível futuro líder.
O almoço na Trindade que termina as eleições europeias juntou os três, mas o calor ficou de fora. Sócrates foi tímido nas palmas e nos sorrisos. Nem mesmo quando o candidato à Europa lembrou o momento em que o Governo de Passos Coelho “tomou o poder” baseando-se numa “mentira”. A referência indireta ao PEC4 estava lá. Sócrates aplaudiu debaixo da mesa.
Foi o mesmo que fez quando António José Seguro discursou. O líder do partido começou por cumprimentar e agradecer a presença de todos, de António Vitorino a Almeida Santos, de António Costa a Eduardo Lourenço e… “ao meu caro José Sócrates”.
Foi a única referência ao nome do ex-primeiro-ministro. Aliás, à semelhança de toda a campanha. A defesa do Governo do ex-primeiro-ministro e do anterior Governo nunca passou pela boca de António José Seguro. Apenas pela de Francisco Assis.
COSTA: “ESTAS ELEIÇÕES TÊM DE VALER POR DUAS”
O cabeça de lista começou por salientar a presença de José Sócrates que recebeu um forte e prolongado aplauso dos presentes, por várias vezes Assis repetiu que o Governo levou a cabo “políticas extremistas” e que por isso é necessário “dizer basta”. O candidato começou por lembrar que o Governo começou “por uma mentira”, disse, que “precipitou a entrada da troika em Portugal”. Não referiu o chumbo do PEC IV, mas estava implícito. A declaração provocou aplausos, incluindo de José Sócrates, mas tímidos.Para António Costa, as eleições de domingo vão ser uma eleições “muito saborosas” porque o PS vai ganhar, mas mais são eleições que “lançam o PS para ganhar as próximas legislativas”.
Na última semana de campanha, tanto António José Seguro como Francisco Assis falaram da união do partido para apelarem ao votos de quem se abstém para que as eleições europeias sejam um primeiro ato para as legislativas. “Estas eleições têm de valer por duas. Para mudar já na Europa e para mudar já em Portugal”, disse, por sua vez, António Costa.
Seguindo a linha que tem sido acentuada nos últimos dias, António Costa apelou ao voto para evitar uma “Europa de extrema-direita”. Mas, nos cinco minutos em que falou, acentuou que essa mudança é a primeira, para depois se mudar em Portugal: “Ao governo dá jeito dizer que fez o que fez porque era obrigado. Todos nós sabemos o que no fundo lhes vai na alma (…). Eles querem fazer mais e pior do que já fizeram”, insistiu o autarca de Lisboa.