Dhlakama, que se mantém escondido na serra Gorongosa, falou por videoconferência, no populoso bairro da Munhava, bastião da Renamo, no lançamento da sua pré-campanha eleitoral às presidenciais de 15 de outubro, e considerou insustentável a coabitação com o Governo, da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), tendo decidido criar fronteiras geopolíticas para dividir o país a partir do Save, província de Sofala, no centro do país.

Com a divisão proposta pela Renamo, o Governo ficaria apenas com a gestão de quatro províncias da região sul, incluindo a capital Maputo, passando as remanescentes sete províncias do centro e norte de Moçambique para a gestão da Renamo.

“Se a Frelimo continuar a negar que as forças da Renamo estejam no Exército nacional, não teremos alternativa: vamos dividir o país a partir do rio Save”, declarou Afonso Dhlakama, no comício realizado em paralelo com o Conselho Nacional do partido, também na Beira, ironizando que não há nenhuma ilha para “acomodar” os seus seguidores.

O líder da Renamo considerou uma farsa a unidade nacional defendida pelo Governo para a pacificação do país, com ideias construtivas, viradas para o desenvolvimento e paz, sustentando que “a população é escrava do regime da Frelimo”.

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O líder partidário, que voltou a autoproclamar-se “pai da democracia” na reunião que juntou centenas de pessoas, de crianças a idosos, defendeu ainda a necessidade de se reafirmar a real participação no pais, e desafiou mais uma vez o Presidente moçambicano a cancelar as escoltas militares, no troço entre Save e Muxungue, na principal estrada de Moçambique, que liga o sul e centro do pais, palco de confrontos entre o Exército e homens armados da Renamo.

Afonso Dhlakama negou a autoria de ataques a civis naquele troço, adiantando que as colunas, escoltadas pelo exército, “são uma manobra do Governo para usar a população como escudo para reforçar a presença de militares” no centro de Moçambique, particularmente na serra da Gorongosa, onde se supõe que esteja refugiado.

“Como eu podia deixar a população circunvizinha na Gorongosa para ir atacar em Muxungue, a minha terra natal, onde estão os meus irmãos?”, questionou Afonso Dhlakama, largamente aplaudido, acusando o Governo de estar a prolongar o conflito no pais.

“Se (Armando) Guebuza tivesse aceitado o cessar-fogo unilateral da Renamo, a guerra teria terminado há três meses atrás”, precisou Afonso Dhlakama, que aguarda a assinatura do protocolo do acordo de cessar-fogo que disse estar previsto para esta semana em Maputo.

O III Conselho Nacional da Renamo, que hoje encerrou na Beira, considerou legitima a divisão do país, apoiando com uma moção de saudação o líder do partido, dirigindo apelos de reconciliação ao Governo.