Israel suspendeu as hostilidades durante sete horas na maior parte da Faixa de Gaza, de modo a facilitar a entrada de auxílio humanitário e para permitir que algumas das centenas de milhares de palestinianos deslocados possam voltar a casa. O anúncio do cessar-fogo unilateral foi feito, através de um comunicado, depois de terem sido tecidas duras críticas ao ataque israelita a uma escola das Nações Unidas que acolhe refugiados em Rafah e que matou, pelo menos, dez palestinianos.

O cessar-fogo, que entrou em vigor às 07h00 (08h00 de Lisboa) e terminará às 14h00 (15h00 de Lisboa), ocorre em todo o enclave palestiniano exceto na parte leste da cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, “onde decorrem ainda confrontos e se mantém uma presença militar israelita”, precisa o comunicado do exército israelita. No documento pode-se ler ainda que “se a trégua for violada, o exército responderá disparando na direção do fogo [palestiniano] durante a hudna (em português, trégua) declarada”.

Os emissários do Hamas, que se encontram no Egito em negociações de paz, aconselharam os palestinianos a olhar com cautela o anúncio do cessar-fogo israelita. “A calma que Israel declarou é unilateral e pretende distrair a nossa atenção dos massacres israelitas. Não confiamos nesta calma e apelamos ao nosso povo para que tenham cautela”, declarou Sami Abu Zuhri, porta-voz do grupo islamita, citado pela Reuters.

Do lado do Hamas o cessar-fogo não parece estar a ser respeitado, pois foram entretanto disparados vários rockets contra povoações do sul de Israel.

De acordo com dados das Nações Unidas, já se registaram 1.650 mortos palestinianos e 475.000 deslocados desde que Israel iniciou, a 8 de julho, a atual ofensiva na Faixa de Gaza. Este conflito já se tornou o mais sangrento dos três que se registaram em Gaza desde 2008.

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“Bombardeamento vergonhosos”

Muitos dos palestinianos deslocados estão abrigados em instalações das Nações Unidas, incluindo numa escola em Rafah que, no domingo, foi atingida por fogo israelita. Desse ataque resultaram dez vítimas mortais. O bombardeamento registou-se pelas 10h50 (hora local) e não foi de imediato assumido por Israel, que acabou por fazê-lo a meio da tarde. Testemunhas no local disseram ao New York Times que as vítimas estavam numa fila à espera de comida. Um fotógrafo no local revelou que o alvo terá sido uma mota, perto da entrada da escola no centro de Rafah. A escola servia de abrigo a cerca de três mil palestinianos deslocados de zonas de guerra.

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, descreveu o ataque como um “escândalo do ponto de vista moral” e um “ato criminoso”, e pediu que os responsáveis pela “grave violação do direito internacional humanitário” sejam responsabilizados. O The Guardian revelou que a bomba lançada rebentou a cerca de dez metros das portas de entrada da escola. Testemunhas dizem que o míssil foi disparado de um dos “muitos drones israelitas” que sobrevoam Rafah. Os Estados Unidos ficaram “chocados” com o “bombardeamento vergonhoso” e pediram uma investigação não só a este, mas também a outros ataques que se tenham registado nas escolas das Nações Unidas.

O primeiro-ministro israelita disse que Israel “pede desculpa por qualquer ataque que tenha, involuntariamente, atingido civis”, mas acusou o Hamas de transformar as infraestruturas das Nações Unidas em “pontos terroristas”. “O Hamas tem interesse em que os habitantes de Gaza sofram. Pensam que o mundo irá culpar Israel pelo seu sofrimento”, disse Benjamin Netanyahu através de um comunicado emitido pelo seu gabinete esta segunda-feira, citado pela BBC.

O Irão, histórico rival de Israel, condenou a inércia do Conselho de Segurança perante a situação dos palestinianos em Gaza. “A agressão selvagem do exército deste regime [Israel] continua com uma política deliberada de genocídio através da morte de civis e da destruição de infraestruturas, casas, centros médicos, escolas e mesquitas”, disse esta segunda-feira o presidente iraniano Hassan Rouhani, durante uma reunião do Comité do Movimento de Países Não-Alinhados sobre a Palestina, em Teerão. Rouhani aproveitou para denunciar “a falta de ação dos organismos internacionais, em particular do Conselho de Segurança, na prevenção dos crimes do regime sionista contra a humanidade”.

No domingo, o exército israelita anunciou que começou a retirar algumas tropas terrestres da Faixa de Gaza e a realocar outras para o interior do território palestiniano. “Estamos a retirar algumas forças, estamos a mudar outras (de posição) no interior do território”, declarou Peter Lerner, porta-voz do exército israelita, citado pela France Press. “Mas continuaremos as nossas operações e teremos uma força de reação rápida no terreno que pode responder ao Hamas caso seja necessário”, acrescentou. Desde o início do conflito que já foram mobilizados 86 mil soldados israelitas.