Está sentada à secretária, abre e-mails e está ansiosa. Karen (recusa dar o seu apelido), 51 anos, quer que o dia da votação que vai ditar o futuro da Escócia passe depressa. No trabalho tem vários negócios pendentes à espera dos resultados do referendo. Em casa, tem três filhos, entre os 21 e os 29 anos, cujo futuro pode ficar completamente afetado no caso da Escócia se tornar independente.
Na imobiliária Russel+Aitken, “as casas estão a vender-se depressa, mas não estão a entrar novas propriedades para venda”. Na realidade, explica Karen, “parece que está tudo com pressa para fechar os negócios, temendo o que vai acontecer”. Mas não são todos. “Quem tem dinheiro para comprar a casa a pronto, está a celebrar o contrato rapidamente. Quem não tem dinheiro a pronto prefere esperar. E, por outro lado, quem tem casas para colocar no mercado, está cauteloso e espera pela decisão do referendo para avançar”, explica.
A ESPC, uma promotora imobiliária que representa 150 agências imobiliárias da Escócia Central, é mais positiva. Numa resposta por escrito ao Observador, o gerente David Marshall, diz que o mercado não tem sido afetado por questões políticas. E até diz que discutir esses “pontos de vista é uma perda de tempo”.
“A Escócia está numa posição privilegiada. A economia tem vindo a melhorar de forma constante e o país está em condições de prosperar economicamente, tanto como parte da união, tanto como independente”
Os números da ESPC, apresentados mensalmente, dão conta de um aumento de vendas durante o último ano, quando já se sabia da realização do referendo a 18 de setembro de 2014. “O número de casas compradas e vendidas em Edimburgo, Lothians e Fife cresceu no último ano cerca de 30-40%”, diz o último relatório, de final de agosto.
Entre os meses de junho e agosto entraram no mercado mais 19% das casas que tinham entrado em período igual de 2013. Por esta altura, já o debate político sobre o referendo estava aceso. Mas a ESPC insiste em não fazer análises políticas.Karen faz. Explica os números com o receio que vendedores e compradores têm caso a Escócia se torne num país independente. “Não se sabe o que vai acontecer. Desconhece-se a moeda. Desconhece-se se vai haver desvalorização, se aumentos. Só sei que para termos as condições de vida que temos hoje, primeiro vamos abaixo, vamos bater no fundo”.
“Estou muito assustada, espero que isto passe rápido”.
O facto de haver vários autocolantes com a palavra “Yes” nas janelas das casas da capital escocesa e de as sondagens darem resultados muito próximos entre a independência e a união reforçam os medos da agente imobiliária. “Eu não quero que os meu filhos precisem de um passaporte para ir a Inglaterra, não quero que vivam num País fora da União Europeia e que se vejam condicionados com o estudos que fizeram”.
A questão da moeda, da defesa e da integração na União Europeia ou na NATO são questões que o primeiro-ministro escocês e líder do movimento separatista ainda não respondeu. Karen vai mais longe no seu raciocínio e diz que Alex Salmond “criou um monstro”. Na sua opinião, a ideia do governante era ter mais poderes delegados por Westminster. “O que ele não pensou era que houvesse tantas pessoas convencidas de que a independência da Escócia era o caminho a seguir”. E agora não pode voltar atrás.