O axioma está testado e é praticamente infalível: quando se caminha para a idade em que um dos privilégios é o desconto de 50% na CP, em contraciclo aos cortes anuais nas pensões decretados pelo (des)governo, diminuem-se também os apetites para novas experiências no campo da música. Joga-se no seguro, apesar de tudo.

Há excepções, obviamente, mas para se chegar à costa são e salvo, a tendência é para apurar o que já se conhece e/ou aprofundar o que se deixou para trás e que não houve tempo para digerir.

Quando se é mais jovem e, sobretudo, se quer transmitir um ar mais intelectual, alternativo, indica-se sempre uma canção que nunca ninguém ouviu e/ou sequer se conhece o intérprete. É uma fase que se ultrapassa para dar corpo ao velho axioma.

A minha pensão tem diminuído substancialmente, mas não o gosto pela música (às vezes a descoberta dela) e no tribunal do meu juízo tenho-me mantido fiel à constituição das minhas raízes. Eis a minha decisão unânime e por aplauso.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

1. Do You Want To Know A Secret, Beatles, 1963

Foi a primeira canção dos Beatles que me encantou, no longínquo ano de 1963. É uma coligação que não tem oposição: eu e os Beatles.

https://www.youtube.com/watch?v=UQG8fGXQBYo

2. Canto Moço, José Afonso, 1970

Assisti à gravação desta canção em Londres, numa altura em que se respirava mal em Portugal e todo o pretexto era bom “para dar o salto”. Ainda hoje sei a canção de cor. E José Afonso é José Afonso.

3. Amor Novo, Luís Rego, 1971

Por falar em “sítios mal frequentados”, também Luís Rego foi respirar melhor para Paris, depois de experimentar a humidade de Caxias. Fez parte dos Problèmes e dos Charlots e Amor Novo foi das primeiras canções em português de que verdadeiramente gostei.

4. Animais de Estimação, Filarmónica Fraude, 1969

Num tempo de “primavera marcelista”, em que alguns ingenuamente acreditaram, a Filarmónica Fraude foi uma “pedrada no charco” como sói dizer-se. Letras sem medo de António Pinho. O regime não abanou, mas deve ter-se sentido preocupado.

5. Partindo-se, Quarteto 1111, 1968

José Cid foi também um opositor in illo tempore. Muitas das suas letras ficaram-se pelo “lápis azul”. Continua a ser uma referência na música portuguesa, mas anda um bocado baralhado nas opções políticas como andou pela música quando se meteu com macacos. Partindo-se tem letra do séc. XV e coligou-se muito bem com a genialidade de Cid do séc XX. Irrevogável!

https://www.youtube.com/watch?v=OqvVVTCEY98