Tenho cinco temas preferidos em múltiplos de cinco mil: packs para ir a comícios, packs para cozinhar, packs para fazer jogging, packs para ouvir com as filhas, ou mesmo packs para gerar o que chamo de “silêncio assistido”, para evitar a cacofonia geral da ciência inexacta que é a eventologia moderna.

Da música interessa-me a sua universalidade absoluta. O critério desta escolha é simples: escolhi as cinco que me apetecia ouvir já a seguir, sempre rendido à mais-valia da interpretação adicionada à autoria

1. Personal Jesus, dos Depeche Mode, na versão de Johnny Cash, 2001

De si uma música perfeita, de um álbum com uma produção exímia, “Violator”, a interpretação de Cash em tom “Mississipi Delta Blues” brilha pela mais perfeita das razões: o tema pop dos Depeche Mode era, afinal, uma canção seguríssima nas suas referências.

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2. Time, David Bowie, 1973

Um assombro ao piano, uma espécie antologia do showbusiness, da falsa força das suas ilusões, um poema digno de figurar em edição autónoma – e Bowie a deambular performativamente nos territórios onde se fundou: entre a música, o som, e o teatro, a visão pela palavra.

3.  The River, Bruce Springsteen, 1980

Uma escolha que faço contra o anti-americanismo primário, contra o anti-showbusiness. “The River” é uma síntese (em letra e música) da prolixa tradição americana da música como consciência social; com a vantagem de que este tema não traz agarrada metade da neurose atávica dos antecessores de Springsteen. Com o Boss, é sempre para regenerar.

4. Nightswimming, R.E.M., 1992

Eu não tenho a certeza de que os R.E.M. estejam devidamente inscritos na história da pop. Parecem-me sempre sobrequalificados para o mundo “shakirante” da MTV e da produção a metro. Para mim, são uma espécie de Hitchcock da música moderna, pelo equilíbrio brilhante entre o virtuoso e o comunicativo. O álbum Automatic for the People – que não se basta na autoria, estende-se até uma produção requintada – nunca precisará de figurar em “top” nenhum.

5.  I’m Still Here, do musical “Follies”, de Stephen Sondheim, na versão de Eartha Kitt, 1991

Porque Orson Welles descreveu Eartha Kitt como “a mulher mais excitante do mundo”. A letra fala por si e a performance de Kitt não deve ser confundida com nenhum comércio. “In the depression was I depressed? Nowhere near!”

 

Já agora, conheça o que Nicolau Pais faz nas horas em que se dedica a fazer música na companhia dos Originais.

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