O secretário-geral do Conselho das Conferências Episcopais da Europa disse hoje que há temas na Igreja Católica que não podem ser tratados por pressão da opinião pública, ao comentar o relatório final do sínodo dos bispos. “Há temas que não podem ser tratados ideologicamente e por pressão, até, da opinião pública ou por pressão de uns países contra os outros”, afirmou o padre Duarte da Cunha, em Fátima, à margem das XXVI Jornadas Nacionais da Pastoral Familiar, que hoje terminaram.

Para Duarte da Cunha, “a fidelidade àquilo que são princípios fundamentais da revelação e da fé não são coisas que sejam etiquetadas facilmente com conservadorismo ou progressismo”. Admitindo que, “às vezes, por quem não está dentro dos assuntos parece que é conservador ou progressista”, o sacerdote referiu que “é mais do que isso, é o amor à verdade das pessoas e à verdade de Deus”.

Questionado sobre se venceu o conservadorismo no sínodo dos bispos sobre a família, dada a inexistência de consensos em relação aos recasados e aos homossexuais, Duarte da Cunha discordou, notando que “a tónica do acolhimento está completamente acolhida”. “Ninguém deve sentir-se não amado e não querido e que não tem lugar na Igreja, seja divorciado, recasado, seja de tendências homossexuais, seja o que for”, disse o responsável, ressalvando que tal “não significa que então se pode receber a comunhão quando não se está em estado de graça”.

Para o padre, tal “não significaria não ser acolhido, mas significaria tratar a comunhão como se fosse uma resolução de problemas que as pessoas (…) sabem perfeitamente que não resolve”. O acolhimento implica que a Igreja “se ponha ao lado das pessoas e que faça caminho na verdade das circunstâncias delas, não que faça de conta que não aconteceu um problema”, salientou.

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Solicitado a fazer um balanço do sínodo dos bispos, Duarte da Cunha afirmou que “a família, de facto, é uma preocupação real na Igreja” e que “não se pode pensar na Igreja à margem da família” ou dos seus desafios. “Acho que também é preciso perceber – e o documento do sínodo mostra isso — que há uma continuidade. Um dos grandes perigos é quando a gente acha que há descontinuidade”, disse, recordando que o documento faz uma “referência muito clara” ao Concílio Vaticano II e aos papas Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI.

O sínodo dos bispos sobre a família aprovou no sábado um relatório final, sem que tenha sido alcançado um acordo em relação aos casos de divórcio e aos homossexuais. Citado pela agência France Presse, o porta-voz do papa, padre Frederico Lombardi, disse que o relatório final foi “reequilibrado” para ter em conta a relutância dos prelados mais conservadores.

O relatório faz um inventário dos problemas diversos da família nos cinco continentes, como o acolhimento pela Igreja dos casais em união de facto, homossexuais ou divorciados. A Igreja Católica proíbe aos casais divorciados e recasados o acesso a sacramentos como a confissão, o batismo ou a comunhão, por considerar que o casamento católico é indissolúvel.