Os republicanos conquistaram a maioria no Senado dos Estados Unidos nas eleições intercalares realizadas esta terça-feira, de acordo com as projeções avançadas pelas televisões norte-americanas. Além disso, o GOP (Grand Old Party, Partido Republicano) aumentou o número de lugares na Câmara dos Representantes.

Infligindo um duro golpe aos democratas, os republicanos passam a deter pelo menos 52 dos 100 assentos do Senado, continuando a manter o controlo da Câmara dos Representantes, selando assim o seu domínio sobre o Congresso norte-americano.

Tirando partido da desilusão dos norte-americanos com a economia, como escreve o New York Times (NYT), os republicanos ganharam lugares anteriormente pertencentes aos democratas na Carolina do Norte, no Colorado, no Iowa, na Virgínia ocidental, no Arkansas, em Montana e no Dakota do sul. É a primeira vez desde 2006 que os republicanos ganham a maioria no Senado.

Com pelo menos mais dez assentos na Câmara dos Representantes (um número que muito provavelmente vai aumentar), os republicanos conquistaram a maioria mais confortável desde a administração Truman (1945-1953).

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Segundo o mesmo jornal norte-americano, esperava-se que estas eleições se assemelhassem a uma guerra de trincheiras, decidida Estado a Estado e distrito a distrito, o que não acabou por acontecer. Mesmo em Estados nos quais se antecipava uma vitória para o Partido Democrata, os republicanos acabaram por sair vencedores. Nas primeiras horas desta quarta-feira, tinham vencido em dez dos 13 Estados em que a corrida se pensava renhida.

Republicanos ganham também a eleição de governador

Além de terem tomado o controlo do Congresso, os republicanos também arrasaram nas eleições para renovar os cargos de governador em 36 estados, com vitórias inesperadas em estados tradicionalmente democratas como Maryland ou Massachusetts.

Dos 36 governadores que se elegiam nas intercalares de terça-feira, 22 encontravam-se em estados dirigidos atualmente por republicanos, enquanto os restantes 14 estavam nas mãos dos democratas, que esperavam marcar pontos neste campo face à previsível perda do controlo do Senado.

Dois governadores republicanos que são potenciais aspirantes às presidenciais de 2016 conquistaram vitórias: o do Wisconsin, Scott Walker, e o de Ohio, John Kasich.

Na Florida, o governador republicano Rick Scott foi reeleito, com uma vantagem de 1% após uma campanha que manteve quase até ao final um empate nas sondagens com o democrata Charlie Crist.

Na Georgia, o neto do ex-presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter (1977-1981), o democrata Jason Carter, fracassou na tentativa de arrebatar o cargo a Nathan Deal, enquanto o republicano Asa Hutchinson ganhou ao democrata Mike Beebe no Arkansas.

Contudo, foi a mudança em estados tradicionalmente democratas como Maryland, Illinois e Massachusetts, que gerou verdadeira surpresa e ratificou o domínio republicano nestas eleições.

Em Maryland, Larry Hogan impôs-se ao democrata Anthony Brown e irá tornar-se no sétimo governador republicano na história desse estado, enquanto em Illinois Bruce Rauner ‘roubou’ o lugar ao democrata Pat Quinn.

Segundo as projeções dos ‘media’ norte-americanos, o republicano Charlie Baker também irá levar a melhor sobre a democrata Martha Coakley em Massachusetts. Já no Maine, outro bastião progressista, o governador republicano Paul LePage conseguirá a reeleição, ao contrário das previsões de analistas.

As escassas boas notícias para os democratas chegaram da Pensilvânia, onde o candidato Tom Wolf afastou o governador Tom Corbett, graças, em parte, ao descontentamento da população relativamente aos cortes na educação que o republicano promoveu.

Os governadores democratas da Califórnia, Jerry Brown; Nova Iorque, Andrew Cuomo; Minesota, Mark Dayton; New Hampshire, Maggie Hassan; Oregón, John Kitzhaber; e Rhode Island, Gina Raimondo, conseguiram manter o seu cargo.

No Havai, as previsões apontam para a vitória do democrata David Ige.

Esta madrugada, os resultados disponíveis ainda mostravam uma corrida ‘apertada’ em Vermont, onde o governador democrata Peter Schumlin luta pela reeleição; no Colorado, onde John Hickenlooper corria o mesmo risco de perder as rédeas do estado para as mãos do republicano Bob Beauprez; assim como no Alaska, onde Bill Walker aspira ‘roubar’ o posto ao republicano Sean Parnell.

No Novo México, a governadora republicana Susana Martínez foi reeleita sem dificuldades, à semelhança dos seus colegas de partido Brian Sandoval (Nevada), Sam Brownback (Kansas), Robert Bentley (Alabama), Nikki Haley (Carolina do Sul), Butch Otter (Idaho), Terry Branstad (Iowa), Mary Fallin (Oklahoma) e Denis Daugaard (Dakota do Sul).

No Texas, o republicano Greg Abott impôs-se à democrata Wendy Davis, enquanto o conservador Pete Ricketts venceu no Nebraska, e o seu colega Matt Mead foi reeleito no Wyoming.

Um castigo a Obama

O eleitorado castigou fortemente o presidente Barack Obama, principalmente os democratas nos Estados do Sul e do Oeste, de acordo com o New York Times.

“Obama pôs o nosso país numa vala. Muitos dos seus tenentes para o Senado ajudaram-no”, disse Reince Priebus, presidente do Comité Nacional do GOP. “O castigo vai ser grande e muito sério”, continuou, citado pelo NYT.

De acordo com o Washington Post, o tema dominante nestas eleições intercalares foi Barack Obama, cuja imagem e popularidade foram fortemente afetadas pelo plano de saúde conhecido como Obamacare e pela sua atitude em termos de crises no estrangeiro, como o ISIS e o ébola. Durante a campanha, foi quase como se Obama estivesse isolado. Os republicanos fizeram-lhe duros ataques, e os democratas procuraram distanciar-se do presidente. No Kentucky, a democrata Alison Lundergan Grimes não respondeu se iria ou não votar em Obama.

Nesse Estado estava prevista uma dura batalha entre Grimes, 35 anos, e Mitch McConnell, o líder dos republicanos no Senado eleito senador do Kentucky cinco vezes consecutivas. Algumas sondagens apontavam que Grimes tinha entre 85 e 99% de hipóteses de vencer. McConnel acabou por vencer pela sexta vez e concretizou um sonho de trinta anos: tornou-se líder da maioria no Senado.

E Obama tinha consciência das dificuldades. Na terça-feira, participou por telefone em quatro programas de rádio para comentar as eleições. Num deles, no Connecticut, onde apoiou o Governador Dan Malloy, Obama admitiu o cenário negro enfrentado este ano pelos democratas: “Este ciclo eleitoral apresenta provavelmente o pior grupo de Estados para os democratas desde Dwight Eisenhower”, disse, numa referência às eleições intercalares de 1958, onde o Partido Republicano perdeu 13 lugares no Senado.

Esta derrota democrata é comparável aquelas sofridas por Nixon em 1974 e Clinton em 1994, disputando com estas o título das eleições mais destrutivas para o partido presidencial desde o fim da II Guerra, escreve o New York Times.