Como um castelo de cartas. Como peças de dominó. O “efeito imediato” improvisado por Schabowski na conferência de imprensa do dia 9 de novembro de 1989 levou os habitantes das duas Alemanhas às ruas para uma noite histórica. A barreira de betão que dividira Berlim, a Alemanha, a Europa e o mundo durante quase 30 anos caiu com uma facilidade impressionante.
Aquela noite pareceu ao mesmo tempo inevitável e inesperada, mas foi, na verdade, o desenlace de uma teia de circunstâncias e acontecimentos que abriram fendas nos regimes comunistas da República Democrática Alemã (RDA) e de outros países da Europa de leste. E que haveriam de levar, no dia 25 de dezembro de 1991, ao fim da União Soviética. A ascensão de Gorbatchov em Moscovo, de Lech Walesa em Gdansk, o apelo de Reagan em Berlim ocidental em 1987 (“Senhor Gorbatchov, derrube este muro”), a abertura das fronteiras nos satélites soviéticos, aquele dia em Leipzig…
https://www.youtube.com/watch?v=YtYdjbpBk6A
Olhando para trás, 25 anos depois, as peças parecem fáceis de encaixar. Uma cronologia dos acontecimentos ao longo do ano de 1989:
6 de fevereiro de 1989
Estima-se que 136 pessoas tenham perdido a vida a tentar passar para a República Federal Alemã (RFA). Sem que o soubesse, Chris Gueffroy ficaria para a história quando, naquele dia de fevereiro decidiu fugir. Foi baleado e morreu, tornando-se a última vítima do muro.
5 de abril de 1989
Na Polónia, o Governo polaco dialoga com o sindicato Solidariedade e outros grupos da oposição. São legalizados os sindicatos independentes e convocadas eleições parcialmente democráticas, agendadas para junho.
2 de maio de 1989
A Hungria desativa o sistema de alarme elétrico e corta o arame farpado que percorre a fronteira com a Áustria. É o início do fim da Cortina de Ferro.
19 de agosto de 1989
Um grupo da oposição húngara decide fazer um “Piquenique pan-europeu” na fronteira com a Áustria, numa demonstração pacífica. Uma das portas dessa fronteira foi aberta durante algumas horas, permitindo a passagem de cerca de 600 alemães de leste que faziam férias no país. Os guardas assistiram sem disparar.
24 de agosto de 1989
Na Polónia, Tadeusz Mazowiecki é nomeado primeiro-ministro. É a primeira vez em 40 anos que um país da esfera soviética elege um chefe de Estado não comunista.
10 de setembro de 1989
Os gestos simbólicos dos meses anteriores conduziram a este momento. A Hungria reabre a sua fronteira com a Alemanha de leste, permitindo a passagem de cerca de 13 mil alemães de leste.
9 de outubro de 1989
Muitos consideram que foi neste dia que o muro começou a cair. Em Leipzig, 70 mil pessoas manifestaram-se com o slogan: “Nós somos o povo”. As autoridades da RDA não conseguiram reagir ao protesto pacífico. Em 2009, o correspondente da BBC em Moscovo, refletindo sobre essa noite, disse: “Uma semana mais tarde, Honecker foi-se embora. Um mês depois, foi-se o Muro de Berlim, derrubado pela coragem dos manifestantes de Leipzig”.
18 de outubro de 1989
O líder da RDA e arquiteto do Muro de Berlim, Erich Honecker é forçado a demitir-se.
4 de novembro de 1989
Aproximadamente um milhão de pessoas juntam-se em Berlim leste para uma manifestação pacífica.
9 de novembro de 1989
- 18h53: Uma conferência de imprensa, uma pergunta e um engano históricos. Günter Schabowski, o ministro da propaganda do Partido Comunista da RDA esteve por detrás da demissão de Honecker e tornou-se o homem responsável por dar voz às mudanças que iriam acontecer no regime. Nessa conferência de imprensa, Schabowski leu um papel que anunciava aos alemães de leste que poderiam passar para o lado ocidental, sem adiantar outras informações. Um dos repórteres presentes perguntou quando poderiam fazê-lo. Schabowski não sabia, mas improvisou: “Tanto quanto sei, a medida tem efeito imediato”. E assim foi.
https://www.youtube.com/watch?v=b8GzptqhT68
- 21h30: Os agentes da Stasi deixam passar os primeiros alemães de leste para a RFA.
- 24h: Todos os postos de controlo que separam as duas Berlins são abertos.
https://www.youtube.com/watch?v=fK1MwhEDjHg