O governador de Nova Jérsia (nos Estados Unidos), Christopher James Christie, disse esta segunda-feira que a vacinação das crianças deve ser uma escolha dos pais. Contudo, confrontado com o surto de sarampo na Disney no final do mês de janeiro, acrescentou, citado pela Associated Press, que “com uma doença como o sarampo não há dúvida que as crianças devem ser vacinadas”. As declarações e esclarecimentos do membro do partido republicano mereceram mais atenção por ser um potencial candidato à Casa Branca em 2016.
A maior parte dos estados nos Estados Unidos exigem a vacinação das crianças para poderem frequentar a escola, exceto a Califórnia, onde surgiu o mais recente surto, e Nova Jérsia, onde o governador usou a liberdade de escolha como um dos motes da campanha em 2009. Chris Christie afirma que os próprios filhos estão vacinados porque acredita que “é uma forma importante de garantir que se protege a saúde deles e a saúde pública”. No entanto, admite que os pais devem ter mais poder nesta escolha e que o governo precisa de ter isso em consideração.
Esta posição encontra apoio noutro membro do partido, o senador do Kentuchy Rand Paul, que também defende que os pais devem ter uma palavra a dizer. “O Estado não é dono dos seus filhos.” Uma mensagem que o gabinete do senador sentiu necessidade de clarificar mais tarde: “[O senador] acredita que as vacinas salvaram vidas e devem ser administradas às crianças. Os seus filhos [do senador] foram vacinados.”
Já os democratas mantêm a posição de que a vacinação deve ser obrigatória em nome da saúde pública. O presidente Barack Obama disse numa entrevista à NBC News que todos os pais deveriam vacinar as crianças e que se não o fizerem põem outras pessoas em risco. A democrata, e também mãe e avó, Hillary Clinton, deixou a posição que defende no Twitter.
The science is clear: The earth is round, the sky is blue, and #vaccineswork. Let's protect all our kids. #GrandmothersKnowBest
— Hillary Clinton (@HillaryClinton) February 3, 2015
A ciência é clara: a Terra é redonda, o céu é azul e as vacinas funcionam. Vamos proteger todas as crianças.
Mas vacinar ou não vacinar as crianças, torná-la uma opção dos pais ou uma obrigação imposta pelo Estado é mais do que uma filosofia política ou um chavão de campanha. “Escolher não vacinar as suas crianças coloca a saúde de outras crianças da comunidade em risco”, disse na segunda-feira Tom Frieden, diretor do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças norte-americano (CDC). De acordo com a instituição as duas doses da vacina têm 97% de eficácia na prevenção de uma doença que mata anualmente 146 mil pessoas em todo o mundo – o equivalente a 17 mortes por hora.
Os movimentos anti-vacinação ganharam especial expressão depois da publicação de um artigo na revista Lancet, em 1998, em que se associava a vacina tríplice (sarampo, rubéola e papeira) a casos de autismo nas crianças. Apesar de equipas diferentes não terem conseguido provar esta relação e de o artigo original de Andrew Wakefield ter sido considerado fraudulento, por motivos éticos e de metodologia, o mito mantém-se e conta com o apoio de várias figuras públicas.
O objetivo da Organização Mundial de Saúde era reduzir em 95% (comparado com o ano 2000) o número de mortes devido ao sarampo até 2015, mas esta meta não será alcançada. Em 2013 a redução do número de mortes encontrava-se nos 75%, com a agravante de que o número de mortes tinha subido de 122 mil em 2012 para 145,7 mil em 2013. Além dos grandes surtos em regiões onde a vacinação é mais difícil, a OMS mostra-se preocupada com o ressurgimento em regiões onde o sarampo deveria estar erradicado, como na Europa.
O sarampo foi considerado erradicado dos Estados Unidos em 2000, deixando de figurar entre as doenças endémicas. Desde aí houve alguns surtos, mas nenhum tão grande como o que este ano se iniciou na Disney. Este surto pode ter tido origem num único indivíduo, o que mostra como a doença é muito contagiosa.