“A carta grega não é, de modo algum, clara. E abre um imenso espaço para interpretação“. Começa assim uma nota distribuída pelos responsáveis do Governo alemão para harmonizar a posição relativamente à carta que a Grécia entregou quinta-feira ao Eurogrupo. O documento do Governo alemão, a que um jornalista da Sky News teve acesso, mostra que é opinião de Berlim que a carta grega “representa um Cavalo de Tróia, com o objetivo de obter um financiamento intercalar e, na sua essência, tentando colocar um ponto final ao atual programa“.

Para o Governo alemão, a carta grega “não inclui qualquer compromisso para concluir com sucesso o atual programa e não contém uma interrupção das medidas do Governo grego”, numa referência às medidas de reforma do mercado laboral e da segurança social que o Parlamento de Atenas vai votar sexta-feira e que são vistas como um retrocesso nas reformas patrocinadas pela troika.

Depois de ler a carta, “continua a ser uma incógnita como é que o Governo grego planeia pagar as suas contas nas próximas semanas, tendo em conta a quebra na receita fiscal”. Por estas razões, é opinião do Governo alemão que o conteúdo da carta “não está alinhada com a posição tomada no último Eurogrupo” e, assim, “não faz sentido começar a redigir um comunicado preliminar (draft) para sexta-feira”.

O que fazer, então, do ponto de vista da tática negocial de Berlim? O Governo alemão aponta para três objetivos no imediato. Em primeiro, obter a opinião das três instituições sobre a situação orçamental atual da Grécia e sobre as possibilidades de o atual programa poder ser concluído nesta base. Em segundo lugar, ter um “compromisso claro e convincente por parte da Grécia” que contenha as seguintes “frases curtas e compreensíveis”: “Candidatamo-nos a uma extensão do atual programa, aproveitando a flexibilidade existente; Iremos acordar com as instituições quaisquer alterações ao memorando de entendimento atual; Temos como objetivo uma conclusão bem sucedida do programa.

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Terceiro: O Governo alemão quer que Atenas “confirme publicamente que não irá tomar quaisquer medidas unilaterais para reverter o programa atual”. Isto inclui, diz o documento, as medidas de reforma do sistema de segurança social e do mercado laboral a votar esta sexta-feira no Parlamento de Atenas.

O Governo conclui com uma declaração importante, em que defende que deve ser prioridade do Governo alemão tentar que não sejam dispensados à Grécia os 10,9 mil milhões de euros relativos à eventual recapitalização da banca, “porque os bancos gregos passaram os testes de stress com sucesso no ano passado”.

Aqui está o documento na íntegra, obtido pelo repórter Ed Conway, da Sky News.