O presidente do Banco Central Europeu (BCE) afirmou esta segunda-feira que a instituição que lidera está disposta a aceitar novamente dívida pública grega como garantia nos empréstimos dados aos bancos comerciais da zona euro, mas para isso a Grécia tem de voltar ao diálogo com as instituições que compõem a troika e fazer o necessário para que volte a existir uma “perspetiva credível de conclusão com sucesso” da última avaliação do programa. O BCE não vai criar regras novas só para a Grécia, diz Draghi.

“O que é necessário [para que o BCE volte a aceitar a dívida pública grega] é que seja colocado em prática um processo que restaure o diálogo entre o governo grego e as três instituições para que se consiga alcançar o que nós chamamos de perspetiva credível de conclusão com sucesso da revisão ao abrigo do acordo existente”, disse Mario Draghi perante o Parlamento Europeu, em Bruxelas.

Mario Draghi disse estar confiante que o BCE ainda poderá restaurar a dispensa da regra de rating que lhe permite aceitar dívida pública grega, assim como comprar dívida grega ao abrigo do novo programa de compra de dívida, ou Quantitative Easing (QE), mas que para isso “várias condições têm de ser satisfeitas”. “Ainda não chegámos a esse ponto, mas estamos confiantes que lá chegaremos”, disse.

Esta “perspetiva credível de conclusão com sucesso da revisão” do programa, ou a ausência dela, foi invocada pelo BCE a 04 de fevereiro quando anunciou que iria deixar de aceitar dívida pública grega como colateral nos empréstimos dados aos bancos da zona euro.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A decisão limitou parcialmente a capacidade dos bancos gregos de se financiarem junto do BCE, passando esse financiamento a ser feito pelo banco central da Grécia, através do mecanismo de cedência de liquidez de emergência, mais conhecido como ELA (Emergency Liquidity Assistance).

O valor que o banco central da Grécia pode emprestar aos bancos gregos através desse mecanismo é, no entanto, também ele controlado pelo BCE, que impõe um limite em valor, e que tem sido aumentado, mas abaixo das pretensões gregas. Mario Draghi falou sobre o valor da ELA, dizendo que esse mecanismo não pode ser usado para financiar o Estado grego, mas sim “para apoiar o sistema bancário”.

O Governo grego tem pedido ao BCE para voltar a aceitar a dívida pública grega como colateral e para que aumente o valor de dívida pública grega de curto prazo que permite que os bancos gregos, para que ajude o Governo grego a assegurar as necessidades de financiamento do curto prazo. Ambas as pretensões têm sido sucessivamente rejeitadas.

No total, lembrou Mario Draghi, o BCE tem nesta altura uma exposição de cerca de 104 mil milhões de euros à Grécia, mais de dois terços do produto interno bruto (PIB) grego. Por isso mesmo, disse em resposta à eurodeputada do Bloco de Esquerda Marisa Matias, afasta o cenário de chantagem do BCE à Grécia.

“Primeiro que tudo, sobre fazer chantagem sobre a Grécia, quando olhamos para a exposição que temos à Grécia, o BCE tem 104 mil milhões de euros de exposição à Grécia. Isto é equivalente a 65% do PIB da Grécia, e é a exposição mais alta da zona euro, que tipo de chantagem é esta? Julgue você mesma”, disse.