A Grécia comprometeu-se a entregar até hoje uma lista detalhada de reformas aos credores europeus para conseguir desbloquear o dinheiro do empréstimo internacional, numa altura em que tem pouca liquidez e que enfrenta mais um conjunto de pagamentos ao FMI e de dívida de curto prazo que podem esvaziar os cofres gregos, mas os credores não estão satisfeitos com o que viram até agora.
Numa altura em que os cofres gregos estão cada vez mais vazios, a lista de pagamentos não é menos exigente. O acordo com os credores é para que o programa termine no final de junho. Até lá, se o Governo grego cumprir o acordado, pode receber 7,2 mil milhões de euros do empréstimo e do valor que os credores da zona euro abdicam dos lucros do BCE com a dívida pública grega.
Mas o caminho pela frente é exigente. O próprio primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, transmitiu esse recado a Angela Merkel. A Grécia está sem liquidez e pode ficar sem dinheiro para fazer os necessários reembolsos aos credores, ou pagar salários e pensões.
Entre abril e junho, a Grécia tem de fazer 13 pagamentos. Estes dividem-se em dois grupos: os pagamentos a fazer ao FMI, e as amortizações de Bilhetes do Tesouro (dívida de curto prazo).
O próximo pagamento é precisamente ao FMI. Mais de 461 milhões de euros a pagar já no dia 9, como parte do empréstimo do primeiro resgate feito em 2010. Durante o mês de abril, os restantes pagamentos dizem respeito apenas a dívida de curto prazo vendida no mercado. 1,4 mil milhões a pagar a 14 de abril e outros mil milhões de euros a 17 de abril, com taxas entre os 2% e os 2,15%.
Em maio, os pagamentos crescem: 768 milhões de euros a pagar ao FMI no dia 12 (também ainda do primeiro resgate) e 2,8 mil milhões a pagar (em duas parcelas) de dívida de curto prazo, a 8 e 15 de maio.
O mês mais exigente será junho. Se em abril e maio, a Grécia enfrentava três pagamentos por cada um destes meses – um ao FMI e duas amortizações de Bilhetes do Tesouro -, e junho são sete os pagamentos que a Grécia tem de fazer, e quatro deles são ao FMI:
- 307 milhões de euros a 5 de junho.
- 346 milhões de euros a 12 de junho.
- 576 milhões de euros a 16 de junho.
- 346 milhões de euros a 19 de junho.
A estes pagamentos ao FMI, somam-se mais três amortizações de dívida de curto prazo, dois no mesmo dia e todos eles coincidem em dias de pagamento ao FMI:
- Um pagamento de 1,6 mil milhões de euros (juro de 1,6%) e outro de dois mil milhões de euros (juro de 2,15%) a 12 de junho;
- 1,6 mil milhões de euros (juro de 2,7%) a 19 de junho;
No total, nos próximos três meses, até ao final do programa, a Grécia tem de amortizar 15,2 mil milhões de euros em dívida, dos quais 2,8 mil milhões de euros são pagamentos a fazer ao FMI.
A dívida de curto prazo é normalmente refinanciada no mercado, mas a indefinição em torno da situação grega tem colocado os juros exigidos no mercado para níveis proibitivos, a isto junta-se o limite imposto pela troika não só ao Governo grego, mas também aos bancos.
Devido ao acordo feito entre Atenas e as três instituições (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional), a Grécia só pode emitir até 15 mil milhões de euros em bilhetes do tesouro (dívida de curto prazo), um limite que o Executivo liderado por Alexis Tsipras tem tentado alterar, mas sem sucesso até agora, para conseguir aguentar os próximos meses, já que o mercado para a dívida a longo prazo está praticamente fechado nesta altura.
Outro dos limites impostos, este pelo BCE, é o valor que os bancos gregos podem usar de bilhetes do tesouro como colateral para pedir dinheiro emprestado aos bancos centrais (agora só o Banco central da Grécia aceita dívida pública grega através dos empréstimos de emergência). O BCE só permite que os bancos possam usar 3,5 mil milhões de euros para pedir liquidez aos bancos centrais.
O BCE até já terá enviado aos quatro maiores bancos gregos, segundo o jornal inglês Financial Times, uma recomendação para que não comprem mais dívida pública grega devido a estes limites. Nesta altura, estima o mesmo jornal, os bancos gregos deverão ter cerca de 11 mil milhões de euros em dívida pública grega de curto prazo.
A última recomendação já terá caráter formal e o BCE quererá agora tornar ilegal que os bancos gregos comprem mais dívida pública grega. Recorde-se que o BCE tem agora a supervisão dos maiores bancos gregos, ao abrigo do mecanismo único de supervisão, e pode mesmo proibir os bancos de comprarem dívida grega.
Lista não chega
A data limite para a entrega da lista de reformas pelo Governo grego a Bruxelas será hoje, mas, como é habitual, os últimos dias foram de conversas informais sobre essa lista. De Bruxelas, saem relatos de insatisfação em relação ao que está a ser apresentado.
Segundo o Wall Street Journal, as propostas da revisão da lista inicial apresentada não têm detalhe suficiente para satisfazer as exigências dos credores para libertar a tranche do empréstimo,
Um responsável europeu, citado pelo jornal norte-americano, diz que as propostas eram vagas e que os colegas gregos não as sabiam explicar tecnicamente algumas delas.
Sobre os reembolsos que se avizinham, os responsáveis europeus dizem que o Governo grego está “razoavelmente” confiante que será capaz de honrar esses compromissos.