Quem não tem cão, caça com gato. Tal como em Portugal as hortas comunitárias e as trocas diretas de produtos voltaram a estar na moda na Venezuela por causa da crise económica. E os venezuelanos também têm dado cordas à imaginação. Com as prateleiras dos supermercados vazias, a BBC reparou em cinco produtos que foram substituídos de forma criativa.

1 – Rum

Uma das bebidas mais populares da América Latina não tinha muitos fãs na Venezuela por causa de outra bebida alcoólica: o whisky. Só que, com a inflação galopante, o whisky ficou tão caro que o consumo desceu 20%. E 2013 e 2014 foram os primeiros anos em décadas em que o consumo do tradicional rum ultrapassou o desta bebida.

2 – Vinagre

Em março, a Venezuela começou a instalar 20 mil leitores de dados biométricos e impressões digitais nos supermercados, para controlar as compras de produtos básicos que escasseiam no mercado e para os quais há senhas de racionamento. Para substituir ou melhorar alguns deles, os venezuelanos têm recorrido ao vinagre. Por exemplo, devido à falta de carne vermelha, e com a sua qualidade a ser cada vez pior, a população tem usado vinagre para tornar as peças de carne disponíveis mais tenras.

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E quanto à falta de acetona para tirar o verniz das unhas? Não há problema. Junta-se limão e vinagre e a tinta sai.

Também se recorre ao vinagre para substituir alguns produtos de limpeza. Ao misturá-lo com bicarbonato de sódio, por exemplo, torna-se um desengordurante.

Talvez assim se explique o aumento de 14% em 2014 da venda de álcool para vinagre, face a 2013.

3 – Mezinhas caseiras

De acordo com a Federação Farmacêutica da Venezuela, nas farmácias do país só é possível encontrar quatro em cada dez medicamentos pedidos aos laboratórios. Para enfrentar o problema, os venezuelanos começaram a fazer cada vez mais remédios caseiros, com todos os riscos que isso acarreta. As borras de café, por exemplo, estão a ser usadas para baixar a febre. As claras de ovos aplicam-se nas queimaduras.

Na medicina, a falta de recursos tem levado também ao regresso a práticas que já se consideravam ultrapassadas. É o caso da mastectomia para tratar o cancro da mama, ao invés do recurso aos tratamentos por radiação.

4 – Raízes e hortaliças

No início do ano, foi notícia a falta de batatas-fritas nos restaurantes McDonald’s da Venezuela. A produção de batata está a ser prejudicada pela dificuldade em aceder a sementes e fertilizantes, pelo que a população está a recorrer a alternativas como a mandioca.

5 – Peças sobressalentes em segunda mão

Quem precisa de arranjar o carro, a mota ou a bicicleta está a ter um problema extra: a falta de peças de substituição. De acordo com a Câmara Nacional de Comércio de Autopeças, estes produtos estão com uma escassez de 80%. O que fez com que o mercado de troca de peças em segunda mão tivesse aumentado exponencialmente. Um carro velho abandonado não ficará por muito tempo, já que é imediatamente desmontado para peças. Outro fenómeno adotado pelos mecânicos é a compra de peças parecidas, que depois adaptam para servir ao propósito desejado. Já há alertas para os acidentes que peças erradas podem provocar.