A falar é que a gente se entende?  Depende. Os investigadores dizem que, com adolescentes, falar sobre um problema pode fazer mais mal que bem.

Com a entrada na faculdade, muitos jovens saem de casa dos pais para estudar e viver pela primeira vez “fora do ninho”. A experiência é nova para os filhos, que têm que aprender a viver sem a presença dos pais. Mas também é igualmente nova para os pais, que têm que aprender a “educar à distância”. Se educar um adolescente em presença encerra as suas dificuldades, fazê-lo à distância pode ser ainda mais complicado, em especial num momento em os adolescentes se estão a adaptar a uma nova realidade e têm tendência a ser pouco expansivos. O ditado diz que “longe dos olhos, longe do coração” e, neste momento de separação, muitos pais dão-se por satisfeitos por ouvir um telefonema da filha ou filho, com vontade de desabafar.

Embora esta vontade de falar possa deixar os pais satisfeitos por sentirem que podem ajudar os filhos, isso pode não ser o melhor para os jovens.  Pelo menos é o que dizem os investigadores, segundo a revista Time. O facto de conversar longa e repetidamente com os filhos sobre os seus problemas – a co-ruminação, ou ruminação interpessoal – pode ter o efeito contrário ao esperado. Ou seja, fazer mais mal do que bem.

Co-ruminar, um fenómeno cunhado em 2002 pela psicóloga Amanda Rose, da Universidade de Missouri, nos Estdos Unidos, consiste em discutir minuciosamente um problema com outros, focar-se nos fatores negativos e insistir na mesma questão. O fenómeno, também descrito como “preserverar ou pensar demasiado em voz alta e com um companheiro”, tanto está ligado ao sentimento de intimidade e proximidade numa relação como aos sentimentos de ansiedade e depressão.

O que Rose defende é que falar repetidamente com os outros sobre os nossos problemas ajuda-nos a criar proximidade com eles, mas também pode interferir com a nossa capacidade e motivação para resolver problemas. Isto, porque falar sobre um problema é diferente de tentar ativamente encontrar uma solução para o resolver. Segundo a psicóloga, a co-ruminação é mais frequente entre mulheres e raparigas.

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Os investigadores Christine Calmes e John Roberts afirmam, num estudo de 2008, que a co-ruminação no contexto da amizade pode ser particularmente importante na compreensão dos níveis mais elevados de depressão entre raparigas, apesar de  também levar a um maior nível de satisfação com o relacionamento. E, em 2013, num estudo publicado no Journal of Adolescence, as investigadoras Rose e Erika Waller apresentam resultados que sugerem que adolescentes que co-ruminam com as mães estão mais susceptíveis a repetir esse comportamento com os amigos e a desenvolver “sentimentos de interiorização”, tais como a depressão e a ansiedade. As investigadoras concluem que “as mães que co-ruminam com as filhas adolescentes devem estar alerta para o facto de estarem a modelar um estilo de comunicação que, se replicado com os amigos, pode ter consequências emocionais negativas”.

Então deve evitar falar com os seus filhos quando eles têm problemas? A resposta é “não”. Mas, antes de iniciar a conversa, deve avaliar se não está a iniciar um processo de co-ruminação. “A questão não está na discussão dos problemas em si, mas na forma como a conversa é conduzida”, referem Calmes e Roberts, “que pode dar  origem de sentimentos depressivos.”

Como diz o ditado popular, “não é o que se diz, mas como se diz. A co-ruminação assenta num padrão de conversação repetitivo e circular.

Para o evitar, atente nas conversas com os seus filhos adolescentes: será que estas se resumem a discutir problemas? Passam muito tempo a falar sobre como os seus filhos se sentem mal em função desses problemas, as causas e razões do mesmos? Encoraja-os a voltar ao assunto com frequência?

Se faz alguma (ou todas) estas coisas durante as conversas, está apenas a especular sobre os problemas em vez de agir no sentido de os resolver. E este tipo de conversação circular não ajuda os adolescentes a encontrarem soluções para esses mesmos problemas de forma autónoma. A melhor forma de lidar com este tipo de problemas é admitir, em conjunto, que não têm uma forma imediata de os resolver.

Uma forma de tornar as conversas com os seus filhos mais produtivas é recorrer ao método ORID de questionamento estratégico, desenvolvido para ajudar indivíduos e grupos a libertarem-se da indecisão. Este método baseia-se na formulação de quatro tipos de questões (Objectivas, Reflexivas, Interpretativas e Decisivas)  sobre o problema, de forma a torná-lo mais claro. No contexto de uma próxima conversa, tente colocar este tipo de questões:

Objectivas – O que aconteceu realmente? Quem disse o quê? Sem entrar nos porquês, tente ser objetivo e factual.

Reflexivas – Como é que o seu filho ou filha se sentiu com o que aconteceu? Tente falar dos sentimentos em relação ao problema, e se for preciso, deixe o seu filho desabafar um pouco.

Interpretativas – Quais as consequências? Em que medida o problema o afecta, a vários níveis?

Decisivas – Como é que a sua filha ou filho vai resolver o problema e como é que pode ajudar? Qual o próximo passo a dar para início à resolução do problema?

Para evitar deixar os seus filhos a ruminar nos problemas e evitar entrar na co-ruminação, tente direccioná-los para as questões decisivas, que levam à ação e permitem avançar em relação à resolução do problema. A chave está em mostrar empatia e respeito para com o que o adolescente está a sentir, o que levará a confiar em si.

A co-ruminação é um hábito social nefasto, em que muitos incorremos, muitas vezes precisamente com o objectivo de ouvir o outro e de tentar simpatizar com os seus problemas. O que nos leva, muitas vezes, a ampliar o problema. Mas esta tendência é evitável. Co-ruminar é andar em círculos numa negatividade constante e todos temos mais a ganhar se as nossas conversas forem mais positivas, sobretudo com os nossos filhos. O objetivo dos pais não deve ser apenas falar com os filhos, mas estabelecer conversas realmente empáticas e que os que ajudem a resolver problemas.