John Oliver entrou finalmente na campanha presidencial. Não é candidato à Casa Branca, naturalmente, nem pisca o olho a qualquer vice-presidência. Oliver ocupou quase 22 minutos a esmurrar (metaforicamente, senhores) Donald Trump. O apresentador do Last Week Tonight disse que era tempo de levar a sério o candidato a candidato republicano. “Já ganhou três estados, tem o apoio de Chris Christie… (…) Desde 1988, quem venceu mais estados na Super Tuesday, foi eleito o candidato pelo seu partido”, explicou Oliver.

E continuou: “Trump é como um sinal nas costas. Há um ano podia ser inofensivo, mas agora que ficou assustadoramente maior já não é sensato ignorá-lo”. As gargalhadas iam acompanhando as palavras que saíam da boca de Oliver como balas. O apresentador chamou-lhe “mentiroso”, “imprevisível” e um “entertainer”, e chegou a desmanchar-se a rir quando Trump gozou com o facto de Marco Rubio suar. Ou, então, pelo tweet aquando de um 11 de setembro: “Queria estender os meus melhores cumprimentos a todos, até aos que odeiam (haters) e aos perdedores (losers), nesta data especial, 11 de setembro”, escreveu Trump.

Depois, seguiu-se uma espécie de fact check. E aqui vamos à boleia da Vox, que montou um guião simples e sedutor. Vamos a isto. Os apoiantes de Trump dizem que ele diz as coisas como são, sem pudores e papas na língua, como diz o povo. “Será que diz mesmo?”, pergunta Oliver. “É que o site PolitiFact analisou 77 das suas declarações, e classificou 76% delas com diferentes variantes de falsidade.”

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Será ele independente como tanto apregoa? “Embora seja verdade que não recebeu dinheiro de empresas, a implicação de que ele gastou 20, 25 milhões de dólares é um pouco improvável, porque o que ele fez na realidade foi pedir emprestado 17,5 milhões à sua empresa e deu apenas 250 mil dólares do seu dinheiro.”

E relativamente à dureza, àquele tom áspero e digno de quem fala com 37 pedras na mão? “Para um individuo duro, ele tem uma pele incrivelmente fina”, atirou. Depois até meteu o tamanho dos dedos das mãos, que curiosamente foi um dos temas do último debate quentinho com Marco Rubio. Quanto ao seu sucesso, Oliver é perentório: “Embora tenha feito mais dinheiro do que a maioria de nós fará na vida inteira”, a que se juntou “uma herança multimilionária do seu pai”, também “perdeu muito”.

Oliver acusou-o de ser inconstante. Abordou também o facto de Trump não se ter demarcado do apoio de David Duke, do Ku Klux Klan. O apresentador criticou Trump por este insinuar não saber de quem se tratava, e que nem compreendia a tal história da supremacia branca, mas Oliver lembrou que, no passado, Trump chamou “racista” a Duke.

Este artigo não teria fim se quiséssemos continuar a relatar a lengalenga daqueles quase 22 minutos, mas terminemos assim: Oliver desmentiu Trump, quando este disse que foi convidado quatro ou cinco vezes para ir ao seu programa “muito chato”, dizendo até que nem saberia quem era John Oliver. O visado deu-lhe resposta: “Primeiro, nem esperava que ele soubesse quem eu era. (…) Mas posso dizer-lhe quem sou. Eu pareço um papagaio que trabalha num banco. Eu até fui confirmar se, por engano, alguém o tinha convidado… E claro que não convidaram!”

John Oliver aproveitou para lançar uma campanha em que altera Trump para Drumpf, um nome usado pela família de Donald em tempos idos — um texto do Washington Post, que censura a atitude de John Oliver, acusando-o até de xenofobia, refere que Drumpf não é um nome usado na família de Trump desde o século XVII. O slogan da campanha do candidato a candidato é “Make America Great Again!” (Fazer a América grande outra vez), por isso John Oliver sugere uma variante: “Make Donald Drumpf Again”. Já há página na Internet, onde se pode comprar um boné parecido com o de Trump, e até uma conta no Twitter.