O repórter britânico Mazher Mahmood, conhecido como “falso sheikh”, foi condenado esta sexta-feira a 15 meses de prisão, por ter adulterado provas numa reportagem sobre tráfico de drogas que envolveu a cantora Tulisa Contostavlos. Mahmood é um conhecido repórter de investigação do Reino Unido, que sempre trabalhou infiltrado. Durante mais de 20 anos escreveu para o News of the World (depois transformado no semanário The Sun) e para o The Sunday Times, tendo assinado diversas reportagens de investigação influentes.

Mazher Mahmood: prémios e escândalos

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Nascido em Birmingham em 1963, Mazher Mahmood entrou cedo para o jornalismo de investigação. As suas reportagens, ao longo dos anos, foram muito premiadas. Em 1999, por exemplo, recebeu o prémio de repórter do ano nos British Press Awards por uma reportagem em que expôs dois diretores do Newcastle United.

Em 2011, recebeu outro prémio importante: o furo do ano, por uma reportagem publicada no The Sun on Sunday, em que divulgou os detalhes do escândalo de manipulação de jogos da seleção paquistanesa de críquete em Londres. Também esteve, contudo, envolvido em reportagens polémicas, como o alegado plano de rapto de Victoria Beckham, em 2003.

Em 2013 publicou um artigo sobre o consumo de drogas por parte da cantora Tulisa Contostavlos, que levou à detenção da artista. O julgamento acabou por perder o efeito quando se descobriu, em 2014, que o jornalista tinha adulterado as provas. Foi este caso que, agora, levou à prisão de Mahmood.

Ao longo da carreira, Mahmood recebeu vários prémios jornalísticos, apesar de ter estado envolvido em algumas polémicas (ver caixa). De acordo com o próprio repórter, as suas histórias levaram à prisão de 261 pessoas, apesar de só haver provas de que houve 94 condenações motivadas pelas reportagens do “falso sheikh”, de acordo com a cronologia do The Guardian. Durante a leitura da sentença, esta sexta-feira, o próprio juiz reconheceu que Mahmood “fez algum bom trabalho” ao longo da sua carreira.

O caso mudou de figura em 2013, quando Mahmood publicou uma reportagem sobre a cantora Tulisa Contostavlos, acusando-a de tráfico de droga. Segundo o The Telegraph, Contostavlos foi condenada depois de a investigação do jornalista ter provado que a cantora organizou um encontro entre Mahmood e um conhecido seu, para lhe vender perto de 800 libras (quase 900 euros) em cocaína. O jornalista encontrou-se com a cantora num hotel, disfarçado de produtor de cinema, e ofereceu-lhe álcool, enquanto discutiram a possibilidade de um papel num filme, ao lado de Leonardo DiCaprio.

Interrogados pela polícia um ano mais tarde, Mazher Mahmood e o seu motorista, Alan Smith, que trabalhou com o jornalista durante mais de 20 anos, apresentaram versões diferentes sobre a conversa que a cantora manteve com Smith, no carro, após o encontro. Contostavlos terá conversado sobre drogas com Smith, mas esses comentários foram posteriormente retirados do processo, que acabou por chegar ao fim em julho de 2014, sem conclusões. Tanto o jornalista como o motorista foram depois acusados de adulterar as provas do processo, e envolvidos numa nova acusação.

A defesa do “falso sheikh” argumentou que o objetivo da reportagem de Mahmood era apenas expor a vida pessoal da cantora, mostrando a sua faceta de consumidora de drogas e as suas relações com os traficantes, contrariando a ideia de “pessoa ideal” que a opinião pública tinha de Tulisa Contostavlos. “Mahmood não é um polícia. É um jornalista”, argumentou o advogado de defesa. A sentença surge agora, três anos depois do início do processo. Além do jornalista, condenado a 15 meses de prisão efetiva, também o motorista, Alan Smith, foi condenado a 12 meses, com pena suspensa.

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