Diz a tradição que na noite de 31 de outubro o véu que separa o mundo dos vivos do dos mortos fica mais ténue. Os antigos celtas, os primeiros a celebrarem o Halloween, acreditavam que, nessa data, os mortos regressavam à terra e que os deuses e os outros seres do submundo passeavam por entre os vivos. O Halloween era, por isso, uma época de festa mas também de homenagem àqueles que já tinham partido.
Passados vários séculos, a tradição celta ainda sobrevive. A sua popularização pela cultura norte-americana fez com que se tornasse numa celebração transversal a todas as nacionalidades e crenças. O Halloween é hoje celebrado da mesma forma nos quatro cantos do mundo — crianças e adultos mascaram-se de personagens aterradoras e saem à rua para assustar os vivos, pedem-se doces e há quem goste de ver filmes de terror. Porque o Halloween é o tempo do fantástico e do sobrenatural.
Por esse motivo, este ano decidimos escolher 13 livros que são ideais para ler no Dia das Bruxas — de Tim Burton a Edgar Allan Poe, passando pelo mestre Stephen King e pelo maior clássicos de todos, Drácula. Tudo para que não passe o feriado de 1 de novembro no sofá a rever o Sexta-Feira 13 (que certamente estará a dar num qualquer canal de televisão).
A Morte Melancólica do Rapaz Ostra & Outras Histórias, Tim Burton
Todas a gente conhece Tim Burton, o realizador, mas nem todos conhecem Tim Burton, o escritor. A verdade é que, em 1997, Burton publicou um pequeno livro de histórias onde as personagens principais são crianças como a Rapariga Vodoo ou o Rapaz Robô — crianças híbridas, “estranhas” e desajustadas que se esforçam por ser amadas num mundo que não as consegue compreender.
A Morte Melancólica do Rapaz Ostra & Outras Histórias foi publicado em Portugal pela primeira vez em 2007, pela Antígona, e ainda se encontra disponível para compra. A tradução foi feita por Margarida Vale Gato, que traduziu os poemas de Edgar Allan Poe publicados pela Tinta-da-China.
Diz a lenda que o título da obra é o mesmo que um texto do romancista e guionista Michael McDowell destinado à Taboo, uma antologia de banda desenhada de terror criada por Steve Bissette, e que nunca viria a ver a luz do dia. Quer seja verdade ou não, o livro Burton é ideal para todos os fãs do criador de Eduardo Mãos de Tesoura, mas também para todos aqueles que dizem que não a um bocadinho de humor negro.
O Lar da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares, Ransom Riggs
Ransom Riggs sempre teve uma coisa por fotografias antigas. A sua coleção, composta por dezenas de exemplares, é de tal forma curiosa que o seu editor tentou convencê-lo a lançar um livro. Só que, em vez disso, Riggs decidiu usar as imagens como ponto de partida para uma narrativa que se viria a transformar no seu romance de estreia (antes disso só tinha publicado um livro sobre Sherlock Holmes).
O Lar da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares saiu em 2011 (com as próprias fotografias de Riggs a ilustrar) e o sucesso foi tão grande que chegou ao top dez do The New York Times, já depois de ter vendido dois milhões de exemplares. A Portugal chegou este ano, a poucas semanas da estreia da adaptação de Tim Burton, que conta com a atriz Eva Green num dos papéis principais.
O romance segue a historia de Jacob, um jovem de 16 anos que se vê obrigado a viajar até a uma remota ilha no País de Gales depois de uma tragédia familiar. Aí, encontra as ruínas de um lar para crianças “peculiares”, ao cuidado da Senhora Peregrine.
Contos Fantásticos, Edgar Allan Poe
Editado pela Ulisseia, Contos Fantásticos reúne as melhores histórias de Edgar Allan Poe, um dos precursores da literatura de ficção científica e fantástica e considerado por muitos um dos pais da literatura policial moderna. Este volume inclui alguns dos seus contos emblemáticos, como “A queda da casa de Usher”, “O coração revelador” ou “O barril de Amontillado”. A quantidade de horror perfeita para o Halloween.
Se prefere antes mergulhar a fundo na obra em prosa do escritor norte-americano, nascido em 1809 em Boston, pode sempre optar pela obra completa — Todos os Contos — lançada pela Temas e Debates em 2014. A Tinta-da-China tem também uma edição ilustrada (e em capa dura) da obra poética completa do autor, com tradução, introdução e notas de Margarida Vale de Gato. As ilustrações são de Filipe Abranches.
Em 2015, a propósito dos 170 da publicação de “O Corvo”, Pedro Mexia esteve na redação do Observador e leu e comentou o mais famoso poema de Poe (numa tradução de Fernando Pessoa). Vale a pena ver:
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Se, por outro lado, tiver curiosidade em conhecer mais sobre a vida de Poe, que morreu precocemente em 1849, com apenas 40 anos, a Saída de Emergência publicou em 2009 a extraordinária biografia de Peter Ackroyd — Poe, Uma Vida Abreviada. Vale a pena ler.
Os Melhores Contos de H.P. Lovecraft, H.P. Lovecraft
Quando se fala de literatura fantástica e de terror, é difícil não falar de Howard Phillips Lovecraft. Considerado por muitos como um dos mais importantes escritores do género do século XX, Lovecraft escreveu poemas, contos e uma extensa correspondência que muitos consideram ser a sua obra-prima. Apesar da produção literária variada, foi pelo Mito de Cthulhu — uma personagem mítica parte polvo, parte homem e parte dragão — que acabou por se tornar conhecido, várias décadas depois da sua morte, em 1937.
É exatamente com a história do monstro, “O Despertar de Cthulhu”, que se inicia o primeiro volume de Os Melhores Contos de H.P. Lovecraft, editado pela Saída de Emergência. Ao todo, a editora lançou quatro volumes com textos curtos escritos pelo escritor norte-americano, com organização de José Manuel Lopes, professor na Universidade Lusófona, em Lisboa, e introduções escritas por Fernando Ribeiro, vocalista da banda de heavy metal Moonspell.
Publicado originalmente em 2009, o primeiro volume dos contos de Lovecraft esteve esgotado durante mais de dois anos. Foi recentemente editado numa tiragem “super limitada”.
Harry Potter e a Câmara dos Segredos, J.K. Rowling
“A Câmara dos Segredos foi aberta. Inimigos do herdeiro, cuidado.”
No Halloween, não podia faltar um dos livros de Harry Potter. É que na Escola de Magia e Feitiçaria de Hogwarts, a data é sempre assinalada de forma especial. O grande salão enche-se de abóboras flutuantes e velas, caldeirões recheados de dores de todas as cores e bolo de cenoura e abóbora. É uma das festas mais esperadas do ano — para os alunos mas também para os fantasmas residentes, que fazem sempre questão de aparecer nas celebrações.
Harry Potter e a Câmara dos Segredos é, provavelmente, um dos livros mais negros da saga escrita por J.K. Rowling. Repleto de mistério, o romance, publicado originalmente em 1998, tem todos os ingredientes de um bom thriller — suspense e muito mistério. Além disso, é o primeiro livro onde surge Dobby, o elfo doméstico, uma das personagens mais acarinhadas pelos potterheards, o que torna a obra ainda mais especial.
Em outubro, a Presença, editora responsável pela publicação dos livros de Rowling em Portugal, lançou a edição ilustrada de a Câmara dos Segredos. À semelhança de Harry Potter e a Pedra Filosofal, publicado em novembro do ano passado, o segundo volume ilustrado inclui dezenas de ilustrações feitas pelo artista britânico Jim Kay.
O Aperto do Parafuso, Henry James
Conhecido pelo romance Retrato de Uma Senhora, Henry James também se dedicou à literatura de terror. Uma das suas obras mais conhecidas é o conto “O Aperto do Parafuso”, criado no final do século XIX em resposta a um desafio lançado pela revista Colliers’ Weekly, que lhe propôs que que escrevesse “um produto da época”.
O século XIX foi o século das histórias de terror e da literatura gótica, e foi exatamente isso que James se propôs a fazer. Baseando-se numa história que lhe teria sido contada dois anos antes pelo arcebispo de Cantuária, “entre duas chávenas de chá”, e por uma mulher, James criou uma história de fantasmas onde a personagem principal, uma jovem governanta, vive assombrada por uns antigos habitantes de uma velha mansão.
Originalmente publicado por partes entre janeiro e abril de 1898, o conto encontra-se traduzido em português pela Sistema Solar.
Frankenstein, Mary Shelley
Foi em 1816, o “ano sem verão”, que Mary Shelley começou a escrever aquele que viria a ser o primeiro romance de ficção científica da história. A ideia surgiu-lhe numa noite tempestuosa de junho, depois de um dos muitos serões passados em redor da lareira da Villa Diodati, uma mansão perto do Lago Lemano, em Genebra, que tinha sido alugada para o verão pelo poeta inglês Lord Byron. Frankenstein, o livro, nasceu como Frankenstein, o mostro — entre trovões no salão de um antigo castelo. Mary tinha apenas 18 anos.
O livro foi logo bem recebido pela crítica e, passados 200 anos, continua a ser tão popular como era no início. Em Portugal, encontra-se traduzido pela ASA e pela BIS. Se tiver curiosidade pela vida de Mary Shelley, ela própria digna de um romance, a Antígona publicou em 2014 uma biografia da autora — Mary Shelley: Uma Biografia da Autora de Frankenstein.
Drácula, Bram Stoker
Haverá história de terror mais icónica do que a de Drácula? Provavelmente não. O romance, escrito pelo irlandês Bram Stoker e publicado originalmente em 1897, foi o grande responsável pela popularização da figura do vampiro. Apesar de esta ter sido abordada em obras anteriores, como a novela de Joseph Sheridan Le Fanu, Carmilla, que é considerada um dos primeiros trabalhos sobre vampirismo, Drácula conseguiu agarrar o público de tal forma que, ao longo dos séculos, foi alvo de inúmeras adaptações ao cinema, ao teatro e à televisão.
Além de Drácula, Bram Stoker escreveu muitos outros contos de terror, a maioria bem mais arrepiante do que a sua obra-prima. Um deles, “The Jewel of Seven Stars”, tem como tema central uma das figuras mais populares da literatura vitoriana (a par dos fantasmas) — a múmia.
Alguns dos contos encontram-se publicados em Portugal pela Guimarães Editores, sob o título Contos Arrepiantes. Drácula foi traduzido por editoras como a ASA e as Publicações Europa-América.
O Estranho Caso do Dr. Jekyll e do Sr. Hyde e outros contos, Robert Louis Stevenson
Não é por acaso que a edição brasileira do famoso conto de Robert Louis Stevenson, “O Estranho Caso do Dr. Jekyll e do Sr. Hyde”, se chama “O médico e o monstro”. A obra explora os dois lados que vivem em todos os seres humanos — o bom e o mau –, ao mesmo tempo que aborda o fenómeno das múltiplas personalidades.
Publicado em 1886, por uma editora londrina, o conto foi considerado por Stephen King, mestre do terror, um dos três grandes clássicos do género, juntamente com Frankenstein e Drácula. “O Estranho Caso do Dr. Jekyll e do Sr. Hyde” foi publicado em Portugal pela Assírio & Alvim em 2007, numa edição que inclui outras duas histórias do escritor escocês — “O Furta-Defuntos” e “Olalla” –, de dar arrepios na espinha.
Doutor Sono, Stephen King
No que diz respeito à literatura de terror moderna, Stephen King é o rei. Conhecido sobretudo pelo romance The Shinning, publicado em 1977, King é dono de uma bibliografia extensa onde não faltam bons romances de meter medo. Em Portugal, saiu recentemente Doutor Sono, a continuação de The Shining que o autor editou em 2013.
Publicado recentemente pela Bertrand Editora, o romance que segue a história Danny Torrance, o rapaz com poderes psíquicos do livro de 1977. Agora adulto, Danny tenta escapar a um passado tortuoso, ao mesmo tempo que as forças do bem e do mal tentam medir forças.
A Árvore de Halloween, Ray Bradbury
Conhecido pela distopia Fahrenheit 451, Ray Bradbury é também autor de uma viagem fantástica ao tempo que o Halloween ainda não se chamava Halloween. Publicado em 1993, A Árvore de Halloween começa exatamente na Noite das Bruxas e relata a aventura de oito rapazes que, persuadidos por uma figura alta e misteriosa chamada Moundshroud, embarcam numa aventura que os leva a terras distantes, como o Egito Antigo, o Império Romano e o México asteca.
Mais do que um livro de aventuras, A Árvore de Halloween (publicado em Portugal pelas Publicações Europa-América), é também a história do próprio Halloween, desde as suas origens até à atualidade. É, por isso, uma maneira divertida de descobrir um pouco mais sobre a festa celta que conquistou o mundo inteiro.