Parecia que estava escrito: quando Owen Wright, que tinha conseguido passar a fase inicial com um triunfo sobre Ethan Ewing e Sebastian Zietz marcado por duas ondas bem acima dos 8.00, enfrentou Mick Fanning na terceira ronda e ganhou numa das séries mais equilibradas do Quiksilver Pro Gold Coast, percebeu-se que a história não ficaria por ali. Continuou, mesmo. Até dar mais uma história de encantar ao surf: o australiano superou o campeão em título e melhor amigo Matt Wilkinson por 14.66-13.50 e venceu a primeira etapa da Liga Mundial de 2017 após uma longa paragem. E contra ‘Wilko’, o principal apoio durante o período de ausência.

Procurando um pouco mais do surfista, é curioso como podemos encontrar no site oficial da prova um texto subordinado ao tema “A Ressurreição de Owen Wright – parte II” datado de… 2014. Nessa altura, recordava-se a longa paragem no ano anterior, devido a um problema nas costas. Desta vez, em vésperas da última etapa da Liga Mundial de 2015 (Billabong Pipe Masters), o problema foi ainda mais sério: na sequência de uma queda quando estava num mar com ondas de cinco metros, sofreu uma grave concussão na cabeça e apresentava dificultava nos movimentos. Nesse mesmo ano tinha ganho em Fiji com dois 10 em baterias diferentes, um recorde.

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A meio do ano passado, e quando muitos começavam a duvidar que voltasse sequer ao surf, o australiano fez uma atualização do seu estado. “Após acabar o tratamento, perguntei-me que raio se tinha passado comigo nos últimos seis meses porque foi um apagão total. Tenho estado a sentir-me estranhamente bem e os médicos dizem que ultrapassei um dos maiores obstáculos e que estou no bom caminho para recuperar a 100%. Tudo o que me aconteceu deu-me uma nova visão acerca da vida e estou grato por isso”, explicou Owen Wright após o regresso faseado ao mar.

Teve de reaprender tudo. Devagar, devagarinho, mas reaprendeu. E ainda serviu de inspiração para a irmã, Tyler Wright, que conseguiu conquistar o título mundial no ano passado. Desta vez, os papéis inverteram-se e foi Tyler, com o irmão Mikey, a carregar Owen até ao pódio num areal cheio e com muitas lágrimas à mistura. Isto depois de, no final do ano passado, ter sido pai, algo que confessa lhe ter também mudado a vida.

“Enfrentei todos os meus medos para tentar voltar a surfar. Senti-me muito bem por poder voltar a competir, rodeado de amigos e a praticar o desporto que mais gosto. É tudo surreal, ainda para mais depois de ter defrontar o Wilko na final porque foi ele que esteve ao meu lado em cada degrau que tive de subir até aqui”, comentou o novo campeão do Quiksilver Pro Gold Coast e primeiro líder da Liga Mundial de 2017.

Já agora, e para contarmos o resto da história desta prova inicial, Owen Wright acabou por não conseguir qualificação direta para os quartos-de-final após vencer Mick Fanning, tendo perdido, a par de Jordy Smith, com a grande surpresa Connor O’Leary (10.77-10.66). Assim, e na quinta ronda, o australiano bateu o americano Conner Coffin (14.76-14.10), antes de se desforrar de O’Leary nos quartos (13.00-11.76).

Na meia-final, já depois de Matt Wilkinson ter eliminado o campeão mundial de 2016, John John Florence (15.90-15.60), Wright aproveitou uma bateria totalmente falhada do favorito Gabriel Medina (que tinha sido o melhor até esta fase da prova) para ir à final com uma vantagem muito confortável de 15.74-10.44. A seguir, fez história. E o surf ganhou mais uma história de encantar.